31.12.08

Ano novo / Sonho renovado



As últimas horas do ano estão aí batendo em nossas portas. É chegado mais um momento de reflexão e esperança para todos. O que passou, se bom ou ruim, faz parte agora de nossa vivência e servirá de norte para tempos futuros, onde estaremos acrescidos das experiências que o ano que finda nos trouxe. Esperamos que dois mil e nove possa ser um ano de boas realizações para todos, que enfrentemos com coragem esses momentos de crise que passaram a ser motivo de preocupação para com a economia mundial, mas que pelo menos, em vista de tempos passados, encontrará nosso país mais preparado para esse enfrentamento. Que possamos refletir sobre o exemplo de solidariedade que demos nesse trágico momento que presenciamos as constantes chuvas em Santa Catarina. Somos um povo solidário e provamos isso nessa hora de tantas necessidades. Que possamos todos estar com saúde para dar continuidade as nossas atividades tão necessárias para a manutenção da nossa dignidade e para educação de nossos filhos, que certamente são as sementes que germinarão e que trarão ao mundo uma nova safra e de melhores frutos. Que possamos, enfim, construir um futuro melhor onde haja mais paz, compreensão, tolerância e amor.Feliz 2009 para você e todos os seus.


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ANO NOVO

Meia noite.
Fim de um ano,
início de outro.
Olho o céu:
nenhum indício.

Olho o céu:
o abismo vence o olhar.
O mesmo espantoso
silêncio da Via-Láctea
feito um ectoplasma
sobre a minha cabeça
nada ali indica
que um ano novo começa.

E não começa
nem no céu
nem no chão do planeta:
começa no coração.

Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros não se escuta
nem se vê
nem pode haver:
que isso é coisa de homem
esse bicho estelar que sonha
(e luta)

Ferreira Gullar

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SONHO RENOVADO

Já não é mais sombra o passado
E as pegadas já não são saudade,
Posto que trouxeram à realidade
Esse sonho antigo, renovado.

E vem garboso e tão belo o infante,
Sob roupagem nova e reluzente,
Impregnando o coração da gente
De boa esperança nesse instante.

E aos que vêm conosco no caminho
Deem-nos as mãos, pois não vamos sozinhos;
Sejam luz iluminando o escuro.

E juntos vamos na estrada nova
Vivenciando o sonho a toda prova;
Um pé no hoje, o outro no futuro.


Frederico Salvo


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Direitos efetivos sobre a obra.
Lei n° 9.610, de 19.02.98

30.12.08

Recordo ainda.../ Ainda somos crianças, querida.




Crescemos. É crescemos. Quem de nós ainda não guarda um gosto de criança dentro de si?
Creio que todos nós ainda a temos dentro, escondida, tantas vezes podada. Ainda podemos sentir o sabor das aventuras dos tempos de menino, o espanto diante das novidades, a ansiedade ao esperar o dia da viagem. Hoje quero fazer um paralelo aqui entre dois sonetos que falam a respeito dessa criança que ainda habita dentro de nós. Vamos lá!






RECORDO AINDA. . .


Recordo ainda... e nada mais me importa...
Aqueles dias de uma luz tão mansa
Que me deixavam, sempre, de lembrança,
Algum brinquedo novo à minha porta...



Mas veio um vento de Desesperança
Soprando cinzas pela noite morta!
E eu pendurei na galharia torta
Todos os meus brinquedos de criança...



Estrada afora após segui...Mas, aí,
Embora idade e senso eu aparente
Não vos iludais o velho que aqui vai:


Eu quero os meus brinquedos novamente!
Sou um pobre menino... acreditai!...
Que envelheceu, um dia, de repente!...




Mário Quintana


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AINDA SOMOS CRIANÇAS, QUERIDA.


Ainda somos as crianças, querida;
Que outrora fomos num recente passado.
Ainda ouvimos as remotas cantigas
Agora em ritmo tropo, sincopado.

Trocamos balas, doces por prazeres
Outros, porém não menos infantis;
Fazemos birra por mortais quereres
Tão sutilmente... (nem percebo que fiz).

Somos meninos grandes, sim senhora;
Representamos num teatro falho
A peça rude que se faz agora.

Tornar-se adulto é ir por um atalho
Ao erro grave de querer, por hora,
Ter mais verdades do que um “vão” pirralho.


Frederico Salvo



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Direitos efetivos sobre a obra.
Lei n° 9.610, de 19.02.98

29.12.08

Metade/Vossa presença




Desde muito cedo venho me exercitando na criação dos versos. A princípio os fazia simultâneos a criação das canções que compunha para um grupo musical do qual fazia parte. Fosse em parceria ou individualmente utilizava os versos para traduzir sentimentos e emoções ou para expor situações por mim experimentadas. Hoje já não componho com tanta frequência, mas restou o amor pela poesia e o exercício do versejar ainda se faz presente. Essa prática tem sido uma fantástica forma de expressão, de onde retiro forças para enfrentar os desafios e dificuldades do dia-a-dia. Passo aqui a postar meus poemas, que são retratos da minha experiência de vida e também fragmentos de sonhos que habitam pensamentos meus. Postarei também outros tantos com os quais me identifico e que possam acrescentar em meu crescimento como ser humano. Espero através dessa atividade contribuir também para o crescimento de todos os que me derem o prazer dessa visita.





















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Metade


Que a força do medo que eu tenho,
não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo o que acredito
não me tape os ouvidos e a boca.

Porque metade de mim é o que eu grito,
mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste...

Que a mulher que eu amo seja para sempre amada
mesmo que distante.
Porque metade de mim é partida,
mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
não sejam ouvidas como prece
e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas,
como a única coisa que resta
a um homem inundado de sentimentos.

Porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
se transforme na calma e na paz
que eu mereço.

E que essa tensão
que me corrói por dentro
seja um dia recompensada.

Porque metade de mim é o que eu penso,
mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste
e que o convívio comigo mesmo
se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto,
um doce sorriso,
que me lembro ter dado na infância.

Porque metade de mim
é a lembrança do que fui,
a outra metade eu não sei.

Que não seja preciso
mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito.

E que o teu silêncio
me fale cada vez mais.

Porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta,
mesmo que ela não saiba.
E que ninguém a tente complicar
porque é preciso simplicidade
para fazê-la florescer.

Porque metade de mim é platéia
e a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada.

Porque metade de mim é amor,
e a outra metade...também



Ferreira Gullar


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Vossa presença




Curvo-me agora diante de Vós,
Porque só dessa forma vejo meus dias melhores.
Só em vosso âmago existe essa luz crepitante
Que ilumina a cegueira nos meus caminhos.
Queria Vos pedir: Vertei Vossos olhos sobre mim,
Para que minha vida seja repleta de Vossa serenidade.
Estai presente na vida dos meus;
Confortai-lhes a alma e dai-lhes o pão diário.
Retirai deles o egoísmo
E que isso se estenda a toda humanidade.
Invoco-Vos, porque Vós sois o sustentáculo
Para minhas mãos vacilantes.
Chamo-Vos, porque sem Vossa presença
O vazio é grande demais.
Entrego-me em Vossas mãos,
Porque, se assim não for, sou órfão de mim mesmo;
Sou nada, sou peso morto.
Velai por mim; Perdoai minhas reincidências;
Rondai meus pensamentos.
Que eu possa, humildemente, ser pequena parte presente
Na Vossa eterna onipresença.



Frederico Salvo.


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Direitos efetivos sobre a obra.
Lei n° 9.610, de 19.02.98

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