31.1.09

Um pouco sobre amor e arte.

Se da arte emana pura
A essência que colore a vida;
Por que deixá-la esquecida,
Perdida numa noite escura?

Pode procurar com esmero;
Vasculhar os cantões desse mundo,
Ir ao recôndito mais profundo
Onde ninguém mais poderá vê-lo.

Só achará coisa bruta
Nesse mundo, em toda parte;
A não ser que amor e arte
Encontre nessa labuta.

Sim! Amor e arte – Eis o que resta –
No mais, tudo é pequeno,
Pois em tudo haverá o veneno
Que o egoísmo empresta.

Falo porque bem sabes amigo,
Que em toda obra de arte
É impossível que se descarte
O amor. Ali ele faz abrigo.

O artista, então, catalisa
Do universo a energia mais pura
E é isso, verdadeiramente, a cura
De tudo quanto escraviza.

Uma platéia eletrizada,
Um poema, uma tela,
Uma construção imponente e bela;
Pura energia canalizada.

Em contrapartida, no que há de mais triste,
É fácil se perceber;
Não há como esconder:
Ali o amor inexiste.

Ganância, ódio, rancor,
Deslealdade, intolerância e guerra;
Em que tudo isso se encerra?
Na certa não é no amor.

Então, levantemos o estandarte
Para que haja mais brilho na vida,
Não se tornando matéria esquecida,
O amor. E viva a arte!


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

30.1.09

Ímã

Esteio. Pilar que me sustenta.
Fonte do amor extremo. Vida.
Como não sentir de forma intensa
Essa paz que em ti vive escondida?

Santa luz de enorme claridade
Que do breu faz manhã clara e bela.
Estrela d’imensa intensidade
Que é ponto de fuga em minha tela.

A ti todas as coisas convergem,
Por ti gira o mundo espiralado,
Pois que és como o olho da tormenta.

Esse ímã que há em ti me orienta,
Trago o peito magnetizado
Pela fé, pelo amor, pela coragem.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

29.1.09

Rio abaixo

Sob a sombra dessas asas
Deixei-me ficar todo esse tempo;
E ao sentir-lhe o toque leve
Como o soprar do vento
E o carinho intenso
Como a abrangente bruma,
Desci em águas fartas
Boiando feito espuma,
Até quedar teu rio
Em meu contentamento.

Deixei-me ficar isento
Das armadilhas do mundo;
E antecipei o riso que me viria em breve
No total das horas, à soma dos segundos;
As cores que te penso,
Perdido em desvario
Nas águas tão serenas,
Meandros do teu rio,
Onde navego em vida
À foz dos nossos mundos.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

28.1.09

Selo "Sobrevivente do Romantismo"


Com imensa satisfação que recebo o selo "Sobreviventes do Romantismo" do meu amigo e poeta Carlos Barros. (http://irretorquivelpsique.blogspot.com/ ).

“Com este pequeno prêmio pretendemos honrar as pessoas que ainda se regem pelo coração, que percebem o que é o verdadeiro amor, que lutam por ele e o conseguem transmitir na sua escrita.”

Este prêmio obedece às seguintes regras:

1) Exibir a imagem do selo;
2) Linkar o blog pelo qual se recebeu a indicação;
3) Escolher outros blogs a quem entregar este premio.

Assim segue:
Bitácura de vuelo http://lanavede-lg.blogspot.com/

Escultura

(Cristo no Horto) - obra de Aleijadinho.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aleijadinho


Na madeira, cuidadoso entalhe
Copia os traços na tua efígie;
Segue a talhar mínimo detalhe,
Co’ a minúcia que a tarefa exige

O escultor de mãos embrutecidas
Que enganando guardam sutileza;
Deixando vai, assim, aparecida
A tua forma (traços de beleza).

E já não é gente, nem madeira,
A peça que do trabalho surge;
D’outra essência a obra consiste.

É como ser de oculta maneira
Na dúvida, a solução que urge;
É como Deus que sendo, inexiste.



Frederico Salvo
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Dieritos efetivos sobre a obra.

27.1.09

Sagrada ingenuidade

Quero a criança que existe em mim.
Sim, aquela que olhava as ruas ensolaradas
E respirava o vento matinal
Sem preocupações metafísicas,
Sem entender os adultos.
Quero que ela saia numa explosão transbordante,
Banhando beneficamente minha alma,
Cicatrizando feridas emocionais.
Quero que corra risonha em minhas veias,
Irrigando todo o meu corpo
Daquela sagrada ingenuidade.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

26.1.09

Calejados versos


Foge das minhas mãos depressa o tempo,
Desenfreado entre o vão das horas.
Vai como folha ao humor do vento
A minha vida pelo mundo afora.

Ontem, no espelho, apenas um menino
A esmiuçar o tom das descobertas;
Hoje a sentir o gosto do destino
Que singrando veio em velas abertas.

Ficaram marcas, vestígios apenas;
Sulcadas rimas, calejados versos,
Pois fiz da minha vida, poesia.

Distâncias que eram grandes fiz pequenas;
Amores bem coesos vi dispersos.
Agora sigo nu. Rasguei a fantasia.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

25.1.09

Tormento

Onde estarão as cores do mundo,
Que outrora enfeitaram meus dias
E celebraram comigo a alegria?
Onde estarão as bocas que cantavam libertas
Os cantos de imaturas letras,
Mas de incomparáveis força e sentido?
Meu Deus!
Onde estarão a pureza dos meus gestos
E a receptividade crédula aos gestos alheios?
Onde andará a inocência
Que procurava em tudo o verdadeiro sentido
E que se ressentia por não ser ainda mais cristalina?
Tudo deu lugar a este tormento
Onde cores são cores apenas;
Bocas cantam rotineiramente
Cantos de letras maduras e repetitivas;
Gestos são sempre comedidos, objetivos;
E a inocência vem apenas esporadicamente
Passear, tímida,
Sobre as frases dos meus versos.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

24.1.09

Boa companhia


Um minuto em tua boa companhia,
Não sei explicar exatamente,
Mas é como algo que fermente;
Transforma-se sempre em um grande dia.

Um minuto em tua boa companhia
Jamais se esgota em si mesmo,
Tampouco se perde a esmo.
Envolve, enlaça, contenta, sacia.

E é justamente esse hiato
Que te faz interessante
E que a minh’alma abriga.

E já não posso esconder de fato
Que és, assim, um ponto equidistante
Entre a mulher, a amante e a amiga.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

23.1.09

Noite Fria


A noite fria cai sobre as pedras quentes
Que vão se amornando aos poucos;
O sol se pôs sereno sobre a colina
E o ocaso abraça toda a terra.
É um abraço de fímbrias laranjas
E de um azul que desmaia moribundo.
Eu caminhava nu sobre os pedregulhos
Sentindo em cada passo uma dor lancinante.
Um sopro gelado transpassava minhas costelas.
Ah, como o sol foi manso e quente ainda há pouco.
Dele só resta agora a lembrança;
Essa que se dissipa aos poucos
Como o calor que se esvai da larga pedra
Onde meu corpo exangue adormece.

Frederico Salvo

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Direitos efetivos sobre a obra.



22.1.09

Crepúsculo


A barca dos homens bóia no espaço;
Pequena partícula azul do universo.
Um tantinho assim, ínfimo pedaço;
Do livro inteiro, um pequenino verso.

Se a terra chega a ser poeira apenas
Um quase nada, ponto minúsculo;
Quão seriam nossas vidas pequenas?
Perdigoto...mínimo crepúsculo.

E nos achamos donos da verdade,
Sobrepujamos a mãe natureza;
Elegemo-nos o centro do mundo.

Nesse misto de poder e vaidade,
Vamos vivendo a nossa realeza
Nos enterrando... cada vez mais fundo.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

21.1.09

Sede



Beija-me,
Pois tenho sede nesse deserto inóspito
E o sol me abrasa os sentidos.
Dá-me teus beijos, pois preciso
Conter meus desejos incontidos.

Mata-me a sede, mata-me a sede,
Pois de mim espero não mais que nada,
Enquanto durar a conquista malograda,
Enquanto não me prender em tua rede.

Queira-me,
Porque rota e parca é minha vida
E há muito caminhar não faz sentido.
Queira-me, pois sem ti a esperança é perdida
E o rio dos meus sonhos, interrompido.




Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

20.1.09

No exercício do verso

Tenho por vício a prática dos versos
E a solidão por ossos do ofício;
Coloco em métricas mundos diversos:
Píncaros tantos; tantos precipícios.

Invento imagens, metáforas e tenho
Guardadas em mim infinitas miragens;
Na alma cálida e inquieta detenho,
Ávido e louco; loucas paisagens.

Porque murmura em mim tudo o que vive
E o que não vive também de mim faz parte,
Pois que sou mínimo encaixe do universo.

E passo aqui, no exercício do verso,
Na prática inigualável dessa arte,
A estar em Deus (que é tudo), inclusive.




Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

19.1.09

Olfato



Meu coração me manda ir por um rumo incerto.
Manda-me prosseguir por uma escura estrada.
Vou e me guio apenas pelo olfato.
Manda-me pisar no barro da incerteza
E eu caminho na segurança do empirismo.
Tortura-se quando sigo para o certo.
Aperta-se no peito, doído, ferimento aberto.
Meu coração, esse louco,
Insiste para que eu caminhe no escuro.
Abro as narinas atento...
...Sigo.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

18.1.09

Prêmio Dardos

Recebi o Prêmio Dardos da minha estimada amiga Helen de Rose :

“Com o Prêmio Dardos reconhecem-se os valores que cada blogger, emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc., que, em suma, demonstram sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os bloggers, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web”.

Este Prêmio obedece a algumas regras:
1) Exibir a imagem do selo;
2) Linkar o blog pelo qual se recebeu a indicação;
3) Escolher outros blogs a quem entregar o Prêmio Dardos.

Assim sendo , repasso o Prêmio Dardos para os blogs abaixo, pelo valor que lhes reconheço:
- Sônia Schomarantz - http://schsonia.blogspot.com/
Tentei evitar entregar este prêmio a blogues que já o tivessem recebido. Recomendo uma visita a estes blogs para que vejam, por vós, as razões do Prêmio que agora entrego.
Frederico Salvo.
( O texto abaixo foi também postado nesse domingo, 18 de janeiro de 2009).

Gaiola velha

http://rcmendonca.spaces.live.com/

À mínima distração do tratador
O pássaro deu de asas e se apartou da gaiola velha.
Pousou no galho mais alto da palmeira,
Lá onde a seiva alimenta a última célula.
Ficou imóvel por um tempo,
Sentindo o vento eriçar-lhe as penas claras;
Não se lembrava de ter tido essa sensação um dia.
Olhou a pradaria vasta e limpou o biquinho de lacre
Antes de alçar um vôo magnífico e tão esperado.
Enquanto voava lembrou-se das mãos do tratador
Colocando-lhe a fruta espetada
Numa das hastes da gaiola velha;
Teve saudade daquelas mãos,
Mas essa saudade era boa, uma lembrança tênue,
Quase imperceptível.
O que lhe enchia a alma de ave agora
Eram os matizes daquela tarde em que renascera,
O céu de um azul turquesa límpido,
Com nuvens salpicadas,
Como acontece sempre nos meses de abril.
Visitou as pedras do riacho cantante
E as flores que por ali beiravam,
Encheu o peito de ar fresquinho e cantou como nunca.
Os outros bichos que por ali passavam
Pararam por um momento para ouvir a melodia.
Vagou feliz pelos campos
E provou minhoca pela primeira vez
Num banquete solitário, contudo saboroso.
Rolou pela terra e comeu fruta madura.
Dormiu com outros pássaros na madrugada fria.
Assim foi por longos dias experimentando o novo,
As coisas que sonhava lá da sua gaiola velha.
Ah...a gaiola velha...
Teve vontade de ir vê-la.
Apontou o bico na direção do instinto e partiu.
Voou o mais rápido que pôde,
Atravessando os campos a sua frente,
Até que avistou ao longe o sítio antigo,
As criações que ele bem conhecia,
Os ruídos que eram-lhe peculiares.
Deu a volta na casa e pousou no muro da varanda;
Assustado olhou a gaiola velha pendurada.
Lá dentro um pássaro parecido com ele
Comia a frutinha pendurada na haste
E piava calmo enquanto comia.
Olhou pela fresta da porta da cozinha;
O tratador fazia sua sesta.
A cadela Jurema ressonava no capacho.
Ele pulou do muro para o telhado,
Olhou a sua volta... novamente para a gaiola velha...
E pela primeira vez experimentou melancolia
Na sua alma de pássaro.




Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

17.1.09

Talvez...

foto: Mathias Cramer
www.temporealfoto.com.br/blog/default.asp?vie..


Talvez eu tenha sido só o verossímil
Daquilo que consideras ser verdadeiro
Ou talvez pretendeste ouvir o indizível
De quem, sendo metade, quiseste por inteiro.

Talvez quem sabe eu tenha conseguido
Chegar a ser de fato tudo o que querias,
Mas por um sentimento um dia mal sentido,
Fugia de mim mesmo e tu nem percebias.

Talvez eu não consiga, definitivamente,
Ser mais do que amante e menos que amigo
E viva para sempre, entre esses, confinado.

Talvez eu os encarne, displicentemente,
Um dia mais distante, n’outro mais abrigo;
De amor, um dia sóbrio, n’outro...embriagado.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

15.1.09

A flor da tua loucura

Anteparo;
Paro
Diante desse absurdo;
Surdo,
Perdido nesse abandono;
Dono
Da flor dessa tua loucura;
Cura;
Passa de mim tão distante;
Ante
Ao rosto do cruel destino;
Tino;
Julguei-te tão apaixonada;
Nada;
Só essa dor nauseabunda.
...



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

14.1.09

Sol com chuva

Avistara justamente naquela manhã nublada
O sorriso que ardia muito mais que o sol
E que tornou acesa a luz que se apagava,
Trazendo intensidade ao esmorecente arrebol.

Porque nada era n’alma mais qu’ínfimo pingo,
Era como um deserto intenso e desfraldado,
Uma pedra preciosa dormindo no limbo,
Na imensidão inóspita d’um continente gelado.

Passos ao relento por rumos incertos
Na inconstância eterna que habita minha vila
E que tornou distante as mãos que andavam perto,
Nos versos inaudíveis da boca que sibila.

Era assim – fonte que desperta –
Era assim antes da tua chegada.
Era sempre fechada a porta hoje aberta;
Era sempre pouco, sempre quase nada.

Mas depois que chegaste sob frio chuvisco,
Depois que desfilaste na cinza passarela,
Colocaste em meu peito um marco, um obelisco,
Na praça principal da minha cidadela.

( Os raios rompendo o chumbo das nuvens
que derramavam naquele rosto indescritível pranto.)




Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

13.1.09

Três passagens breves...

1- CEIFA

Não poderíamos trabalhar apenas
Pelo salário da dignidade
Do que prender as verdades pequenas?

Não haveria de ser minorado
O tamanho da irracionalidade
Se dividíssemos o trigo ceifado?

Por hora ferve em mim a utopia.

Pra sempre se afoga a humanidade.



2 - NAS ENTRELINHAS

Por mais que se queira
traduzir em verso ou prosa,
e por mais bem sucedidas
essas tentativas sejam,
o amor, ainda assim,
estará nas entrelinhas.



3 - UMA QUESTÃO DE PELE

Gengis Khan usava pele de leão.
João Batista usava pele de camelo.
Jesus Cristo, por menos que aparentasse,
Estava sob pele de cordeiro.




Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

12.1.09

Caminho

Caminho.
Pois é o que me resta
Nesse viver sozinho.
A única fuga,
O último carinho
Que vem depois da festa
E o meu pranto enxuga
Devagarinho.

Caminho.
Porque nada mais tenho
Nesse torvelinho
Que vem de madrugada
E deixa em desalinho
As dores porque venho,
De luz apagada,
Chorando baixinho.

Caminho.
Porque não há saída.
Se eu paro: definho.
Vou seguindo em frente,
Fugindo do espinho
Que guarda a flor da vida
E fere, impunemente,
Quem cruza o seu caminho.

Caminho.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

11.1.09

Resposta

É tudo isso um misto dos meus sonhos,
Das frustrações, lembranças, e dos medos.
Vezes felizes, outras bem tristonhos;
Versos que guardam todos os segredos.

Não sei se assim respondo essa pergunta
Que me fizeste à sombra dos enredos
Dos meus poemas (sei que os assuntas).
Eu trago a vida toda entre os dedos

Que dinamizam o corpo dessa pena
E desvirginam a nua e clara folha,
Trazendo à baila ideias, atos ledos.

Posso fazer a dor ficar pequena,
Posso tecer o mundo a minha escolha,
Posso fazer dos versos, meus brinquedos.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

10.1.09

Refúgio


Só da poesia, refúgio, espero;
E ninguém pode conter meu pensamento.
Não me façam engolir o que não quero;
Só com meu mundo me contento.

Prenderam-me;

Ataram-me as mãos ávidas de vida
E nunca mais encontrei a saída;
Só da poesia, refúgio, espero.

Prenderam-me;

Puseram em meus pés as esferas de chumbo,
Mas minha pena é sedenta do mundo;
Ninguém pode conter meu pensamento.

Prenderam-me;

Vestiram-me a roupa da boa conduta;
Eu grito contrário. Ninguém me escuta.
Não me façam engolir o que não quero.

Prenderam-me;

Impuseram-me o consumo desmedido,
Como se eu já houvesse escolhido;
Só com meu mundo me contento.

Ninguém pode conter meu pensamento;
Não me façam engolir o que não quero.
Só da poesia, refúgio, espero.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

9.1.09

Labareda

Procuro mensurar em vão esse momento
Em que te fizeste presente em minha vida;
Insisto, mas não acho padrão de medida
Que possa ser exato a esse sentimento.

Então me dispo e por inteiro transpareço,
Mostrando-te, sincero, o que habita em minh’alma,
Porque isso conforta, liberta e acalma
Já que não pago ao engano elevado preço.

E assim caminho na direção do teu lume,
Da labareda clara que a tudo resume
E aquece meu peito num crepitar constante.

E ao queimar, desse homem ela faz menino,
Da distância cruel, um palmo pequenino
E do poeta que agora escreve, faz amante.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

8.1.09

O sorriso da dúvida


O que foi que deixei registrado
Na vida de quem convivi?

Fui cerca, fui casto, fui nada,
Fui zelo, fui pomba no fio,
Fui pedra rolando na estrada,
Fui gelo, fui chuva no estio.

Estive no centro de tudo,
Fui terra pr’os pés, fui razão,
Fui voz eloquente, fui mudo,
Espera, mentira, paixão.

Depois fui também só a lua;
Em volta de alguém orbitei.
Fui cama, cozinha, sacada
Da casa que nunca habitei.

Agora indago calado:
(pois a dúvida me sorri)

O que foi que deixei registrado
Na vida de quem convivi?



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

7.1.09

Mimetismo


http://forum.mmocentral.com.br/showthread.php?t=43747

Onde queres chegar com esse teu mimetismo,
Sumindo aos meus olhos feito camaleoa?
Sabes que há entre nós dois, magnetismo;
Uma sintonia que não se fez à toa.

Se te camuflares burlando a minha vista
Ao me perceberes, com faro de leoa,
E te esconderes sem deixar nenhuma pista;
Ainda assim não enganarás minha pessoa.

Pois há demais de nós dois nas nossas vidas,
Lembranças que não podem ser esquecidas;
Canto puro que a saudade nos entoa.

Eu te encontrarei assim despercebida,
Na contramão fugaz da despedida
E indagarei enfim: _ Querida, me perdoas?


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

4.1.09

Divina inspiração

Não se encontra explicação para se dizer ao certo de onde procede um momento de inspiração. O arrebatamento, a surpresa que por vezes os versos causam ao seu próprio criador é mesmo um instante difícil de se traduzir em palavras. Tentei fazê-lo no soneto abaixo.




DIVINA INSPIRAÇÃO


Vertes em mim feito água de cacimba
Vinda num rompante. Abrupto espasmo
Inundando tudo como um orgasmo.
Divina inspiração: _ Sê sempre bem-vinda!

Vem a reboque de ti a vida inteira.
Enche esse poço, límpida, abençoada
E aquilo que até então era nada,
Nasce poesia. Santa parideira,

Sempre cavo no puro afã de encontrar-te.
Cravo forte as unhas nessa terra dura.
Grato prazer, minha paciência infinda.

Muitas vezes, quando fico a esperar-te,
Já quase desistindo dessa procura,
Vertes em mim feito água de cacimba.


Frederico Salvo.

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Direitos efetivos sobre a obra.

Lei n° 9.610, de 19.02.98

3.1.09

Houve um frenesi aqui pela orla...


Houve um frenesi aqui pela orla.
Sorrisos largos, abraços,
Um misto de esperança e choro
Regado a espumante.
Houve oferendas lançadas
A flor da água.... e risos
Muitos risos.
Depois foi a contagem regressiva
Num coro de vozes esverdeadas.
Mãos entrelaçadas, olhos cerrados,
Lágrimas.
No lugar do zero explodiu a pirotecnia.
Línguas de fogo no céu
Em contraste com outras em terra
Nas bocas abertas.
Olhos brilhantes e novos abraços.
Segredos ao pé de ouvidos. Beijos.
Narizes encontrados, olhos nos olhos.
Instantes mágicos e inebriantes...
Houve,
Ao longe ainda, passado algum tempo,
O espocar de algum foguete.
Depois...Outra vez a noite escura,
A água escura.
Aos poucos a brisa
Foi desfazendo
A densa camada de sonhos...
Lentamente...
E então,
Ao romper da aurora,
houve novamente
A mesma sensação de normalidade
Que havia
Antes do primeiro estouro.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.
Lei n° 9.610, de 19.02.98

2.1.09

Sobre a minha terra natal./ Obra prima / Serra do Curral

Gostaria hoje de postar aqui dois sonetos em homenagem a Belo Horizonte, minha terra natal. Na verdade, são poemas que têm como tema, locais distintos, reconhecidos como cartões postais da cidade. O primeiro fala a respeito da igrejinha de São Francisco de Assis, obra do grande arquiteto Oscar Niemayer, onde podem ser encontradas também pinturas de Cândido Portinari, além de esculturas em bronze de Alfredo Ceschiatti e projeto paisagístico de Roberto Burle Marx. No segundo, os versos exaltam a Serra do Curral del Rey, beleza natural responsável pelo "belo horizonte" que dá nome a cidade. Fique com eles.






http://www.overmundo.com.br/guia/igreja-sao-francisco-de-assis-1

OBRA PRIMA


A igreja de São Francisco de Assis,
A obra prima do arquiteto Oscar
Niemayer tem beleza ímpar;
Leve e simples como um traço de giz.

Tem as formas curvas da montanha,
Símbolo maior da minha terra;
Nela tanta beleza se encerra.
Quem perde ali o olhar, sempre ganha.

Esse esplendor que ofusca a retina
E a genialidade cristalina
Intrínsecos em sua fachada,

Às margens do lago da Pampulha,
São como incandescente fagulha:
Deixam n’alma a saudade arraigada.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.
Lei n° 9.610, de 19.02.98




SERRA DO CURRAL


Daqui até onde a vista alcança,
Observo em grata clarividência,
Com toda a sua perfeita opulência
A Serra do Curral. Bela pujança

Essa obra da natureza abriga,
Tendo a seus pés a cidade espraiada
Como uma grande tela emoldurada;
Rara combinação, perfeita liga

Que coloca n’alma um profundo encanto
E ao olhar atento aprisiona tanto,
Pois não há defeito em ti que se aponte.

Não poderia ser de outra maneira;
A cidade toda a aclama altaneira.
Foi por ti o nome: Belo Horizonte.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

Lei n° 9.610, de 19.02.98

1.1.09

Pensamento de Albert Einstein / Matas a ti mesmo.




"Um ser humano é parte de um todo que chamamos "o universo", uma parte limitada no espaço e no tempo. Ele sente a si próprio, seus pensamentos e emoções, como algo separado do resto - um tipo de ilusão de ótica da consciência. Para nós, essa ilusão é uma espécie de prisão, restingindo-nos a nossos desejos e afeições pessoais para com algumas pessoas mais próximas. Nossa tarefa deve ser a de nos libertarmos dessa prisão, ampliando nosso círculo de compreensão e compaixão, de modo que possa incluir em sua beleza todas as criaturas viventes e a totalidade da natureza."


Albert Einstein

Algumas frases do pensador Einstein:
http://www.pensador.info/p/frases_de_albert_einstein/1/




Calhou-me abrir o ano com esse pensamento de Einstein. Nele o pensador quer nos mostrar o quanto estamos sob a "ilusão de ótica da consciência". Vemo-nos como seres apartados da natureza, como se não fossemos também parte integrante dela. Nossos atos de violência contra o todo da natureza, têm reflexo direto sobre nós mesmos, haja visto as consequentes catástrofes naturais que têm assolado o mundo. O que de certa forma nos conforta é que há hoje um olhar diferenciado para essa questão, que já se tornou assunto primordial na pauta das reuniões internacionais. Os noticiários nos bombardeiam com notícias sobre esse tema. As escolas e as universidades, cada vez mais abordam esse assunto com os estudantes. Cabe-nos torcer para que tudo se encaminhe para uma maior conscientização a respeito dessa questão, porque urge fazermos esforços efetivos para que a terra se torne um lugar melhor para se viver. Tomara ainda haver tempo suficiente para isso.






MATAS A TI MESMO

Por que colocas aquém de ti a natureza,
Subjugando-a a teu poder imaginário?
Por que te apartas da completude e da beleza
Como se fosses parte fora do cenário?

Não vês que em ti vive a origem do universo,
Que és uma peça, parte viva deste jogo?
Se o poema equilibrado perde um verso,
É semelhante ao crisol que perde o fogo.

Erguer a mão contra teus pais seria louco,
Também seria insensatez ferir teu filho;
Desequilíbrio tal: um ato de torpeza.

Por que então pensar assim que seja pouco
Ferir a essência, massacrar, tirar-lhe o brilho?
Matas a ti quando destróis a natureza.



Frederico Salvo.
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Direitos efetivos sobre a obra.
Lei n° 9.610, de 19.02.98




Feliz 2009.