25.7.09

Revelação


As palavras vagam solitárias, desconexas...
Num oceano imenso, sem destino e sem compasso;
Vêm sem direção, qual folhas secas no espaço
Que o vento sopra, que o vazio faz reflexas.
O poeta sofre por não ter nas mãos o fio
Que conduziria ao desnovelo da meada.
A inspiração, sempre presente, não diz nada...
Muda, quieta, fria, solo seco no estio.
Mas uma semente que outrora foi jogada
Por mão displicente, por escolha ignorada
Fez-se broto novo nas ranhuras do incerto.
E pra quem não tinha nem um pingo de ventura
Revelou-se a dádiva em feliz semeadura
Que mesmo apartada, fez-se fruta no deserto.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

23.7.09

Cálice fecundo


Sobe o sol e rompe em virgem alvorada,
Sobre o azul turquesa sua luz emana.
Súbito clarão, chama soberana,
Sóbria mansidão ao fim da madrugada.
Sob excelso manto sinto-me menino,
Sábia luz que faz menor a quem exclama,
Sabe que enquanto o horizonte inflama
Salta em quem assiste um pouco de divino.
Sorvo da imagem (cálice fecundo),
Sinto a inspiração invadindo meu mundo,
Seiva que escreve minha poesia.
Salve, salve belo e grato nascimento,
Santa claridade mãe desse rebento
Solto na expressão da luz de um novo dia.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

20.7.09

Confluência (Uma homenagem à amizade)


E que caminho outro haveria de ser meu
Além desse aqui em que um dia me encontraste?
Que outro destino haveria de ser seu
Senão o que a mim juntamente estiveste?
Seria ao acaso essa espontânea confluência
Que nossos riachos por hora experimentam
Tão somente fruto de vã coincidência,
Junção de quimeras qu’essas águas levavam?
Por que abraçaste meu liame de defeitos
E nunca julgaste meus gestos imperfeitos
Quais ventos num mar de constante tempestade?
Pergunto a mim mesmo qual a razão desse apreço.
Será mesmo meu Deus, que eu de fato mereço
Experimentar tão profunda e sincera amizade?


Frederico Salvo
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18.7.09

Como pena aos sabores do vento



Meus poemas são cartas que vão
Como pena aos sabores do vento;
N’outras terras outras almas são,
N’outros olhos, o seu complemento.
Nas nuances de outras culturas,
No crisol de emoções estrangeiras,
No caótico ser das misturas,
Espontâneas missivas maneiras.
Neles vão a intenção mais sincera,
Seja em fato real ou quimera
Do que trago em mim por enquanto.
Eles são a expressão transparente
Do que a alma me traz no presente
E os versos me dão por encanto.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

11.7.09

Remoinho


Apenas murmurou o vento e eu saí atabalhoadamente a procurar os teus passos. Eles que eram tão seguros aqui na terra que me circunda. Agora somente esse vento frio e as palhas voando em remoinho. Não me coube mais as velhas botas e eu as tirei às margens do lago, no mesmo lago onde lançavamos as pedras lisas que saltitantes cortavam o leito d’agua. Eram cristalinos os nossos sorrisos e as ondas provocadas pelas pedras nos vinham ritmadas a trazer os arroubos de sonhos.
Praticamente não há mais nada. Nem os canteiros de margaridinhas existe mais. Com elas se foram a lembranças de carícias plenas e o aroma doce das gargalhadas rasgando o silêncio das manhãs nubladas. Não há também o soar dos sinos que da capela vinham encher o quarto ainda recendendo o cheiro das nossas entregas. Se visses agora o cajueiro como parece triste. Não há frutos. As folhas estão por um fio nas hastes frágeis. E esse vento agora a soprar constante, começa a derrubá-las, uma a uma, ao romper do meu outono.


Frederico Salvo
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4.7.09

Compondo um soneto



Hoje pela manhã, quando abri os olhos, veio-me clara na cabeça a frase com que comecei o seu soneto: “Coloca sobre mim o teu olhar profundo”. E pude realmente senti-lo cintilante em meu quarto, na penumbra que permeava tudo. Sua silhueta bem definida e um começo de sorriso nos lábios envolviam em tranqüilidade o meu princípio de manhã.
Depois, quando sua mão tocou suavemente meu rosto, veio a segunda frase: “E põe em minha face tua mão serena”. Comecei a repetí-las lentamente, observando a métrica e onde estavam as sílabas poéticas de apoio. Fui dando ritmo a elas e vi que mereciam uma resposta para fechar a primeira quadra.
Veio-me a terceira frase: “Pois só dessa forma tem sentido meu mundo”.
Podia mesmo senti-la ao meu lado, sua mão acariciando meus cabelos. Olhei para você e recebi um lindo sorriso como sinal de aprovação.
“E a vida, só por teu sorriso, vale a pena”. A quarta frase veio como resposta ao seu ato.
Se verdadeiramente o amor tem sido um sentimento libertador e tem vindo, através dos tempos, como a busca maior de todo ser vivente, pensei ser conveniente colocar na próxima quadra, frases que falassem desse sentimento. As duas primeiras da segunda quadra vieram juntas: “Se a pena que te escreve cálido soneto” e em seguida: “Expressa todo sentimento verdadeiro”.
A penumbra do quarto começava a se desfazer, dando lugar aos primeiros raios de sol da manhã. Levantei-me apressado e entrei para o banho. Deixei-a em minha cama, adormecida, como a última imagem daquele sonho.
No chuveiro, enquanto a espuma escorria pelo meu corpo, comecei a pensar na velocidade do tempo que, inexoravelmente, nos arrasta a todos e me veio a clara certeza de que precisava fazer esse amor estar em minha vida. Precisava, sinceramente, conviver com ele.
“Não é justo o tempo tornar-me obsoleto”.
Resolvi que escreveria mesmo o soneto e que falaria de você a todos que conviviam comigo.
“Por isso grito agora, alto, ao mundo inteiro”. As frases continuavam pausadas e com essa última, acabei concluindo a segunda quadra. Faltavam agora os tercetos e foi enxugando o corpo que tive a idéia de neles me declarar a você.
Bom. As declarações, vez ou outra, costumam soar de forma piegas, carregadas de sentimentalismos fugazes, mas não deixei que isso desmanchasse as minhas idéias, que continuavam vindo como num turbilhão.
“Amo-te desenfreada e intensamente”
E ainda...
“Amo-te de uma forma linda e inesperada”
E fechando o primeiro terceto:
“Amo-te assim, de inexplicável maneira”
O último terceto me veio inteiro. Corri, me assentei de frente ao computador, coloquei o seu endereço no e-mail e digitei o seu soneto, que horas depois você leria com surpresa:

Paixão Imensurada

Coloca sobre mim o teu olhar profundo
E põe em minha face tua mão serena.
Pois só dessa forma tem sentido o meu mundo
E a vida, só por teu sorriso, vale a pena.

Se a pena que te escreve cálido soneto,
Expressa todo sentimento verdadeiro;
Não é justo, o tempo, tornar-me obsoleto,
Por isso grito agora, alto, ao mundo inteiro:

Amo-te desenfreada e intensamente,
Amo-te de uma forma linda e inesperada
Amo-te assim, de inexplicável maneira.

Gostaria de tê-la e amá-la eternamente,
Sob o signo de uma paixão imensurada;
E trazer comigo o amor; pela vida inteira.



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Beijos de quem muito te adora!





Frederico Salvo.


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