24.12.10

Insânia (poema musicado)



Amigos leitores,
Encerrando o mês de dezembro e conseqüentemente o ano de 2010, deixo para vocês o poema "Insânia" de autoria do meu amigo e poeta carioca José Silveira e que tive o privilégio de musicar. Agradeço a todos pela presença durante esse ano e desejo um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde e paz a todos.
Abraço fraterno!
FS








Eu criei na minha inspiração
Lapidei teu corpo
com cinzéis.
Fiz-te verdade,
louca imaginação.
Possui tua carne em sonho bom.
Possuíste-me a alma
Enlouqueci
na calma
quando te vi luz e
poesia.
Cegaste-me o olhar
E eu dormi.
Perdi-te ao acordar.
Morri.
Para nunca mais sonhar.
Amar-te-ei!?
Utopia!
Eu...
Eu só...
Só eu.

Frederico Salvo e José Silveira


Todos os trabalhos estão protegidos pela Lei dos Direitos Autorais N.o 9.610/98. O uso não facultativo - total ou parcial - do conteúdo exibido será tido como crime de plágio.

21.12.10

Sopoema


(Puta dor de cabeça
essa de me meter
a compor versos).

Deixo a pena correr solta
Enquanto preparo
Um cozimento.
Um engrossado de palavras
Suculento poema novo
De tempero agridoce.
Cheiro inebriante
A envolver o ambiente.
Ponho-me a giroverter
A mistura.
Dela já me adentra
às narinas o vapor espesso,
Uma cortina densa
Ao meu olfato.

Depois me sento
E saboreio o poema
Ouvindo
O som inconfundível
Do sorver o caldo.


Frederico Salvo

19.12.10

Rompantes - I -




Indigestão de peixe
é comer minhoca
com recheio de anzol.

**

Pontadas nas costas:
motivo maior
da insônia do faquir.

**

Por trás do feroz leão
Havia uma avestruz
Com a cabeça no buraco.

**

Um mar seco
Cabe inteirinho
Dentro de uma concha.

**

Se se visse no espelho
A barata entenderia
O porquê da chinelada.

**

Frederico Salvo

17.12.10

Alquimista


Assomam-se
as horas perdidas
e da minha boca
nenhuma palavra
a salvo.
Apenas
esse murmúrio rouco
das mesmices estonteantes.

E eu com a roupa da alma...
pele, pura e simples,
invólucro
desse tantinho
de universo
esmiuçado em um corpo
que tange
as cordas da vida,
entoo
o mesmo canto possível
que já conheces há muito.

O teu entendimento
é o cálice que recebe
o sumo do que sou,
e me bebes com expressão
de prazer no rosto.

Alquimista
a separar a pureza da uva
da acidez corrosiva
e estonteante
do meu álcool.


Frederico Salvo

12.12.10

Chão de incerteza


Enquanto a vida passa, ficam esses momentos.
Somente alguns instantes; fugazes navios
Rasgando bravamente esses mares bravios
Fazendo esquecidos todos os tormentos.

Um gosto prazeroso brincando na boca
E a ânsia adormecida em berço embalado
Por mãos que se confundem, por gestos desejados,
Nos únicos minutos dessas horas poucas.

Depois vem o vazio, o chão de incerteza,
O navegar sombrio em águas estrangeiras
E a vaga melodia d’um sentimento solo.

Espalhadas lembranças, soltas sobre a mesa,
De cada verso meu se apossam ligeiras...
Nas tramas d’um soneto breve me consolo.


Frederico Salvo

8.12.10

Inesquecível


Nem mesmo toda distância desse mundo.
Nem hoje, nem amanhã, nem no ocaso.
Acaso navegue o barco em mar profundo
Ou singre pelo ribeiro em leito raso.

Nem mesmo a rapidez de um segundo
Ou tempo distribuído em menor prazo.
Nem caso que torne o fértil, infecundo
Ou plante minha semente n’outro vaso,

Faria com que de ti eu me esquecesse,
Traria ao meu querer algum atraso
E o ardor, impediria de ir mais fundo.

Porque se em outras paragens me escondesse,
Nas terras desconhecidas do descaso,
Seria o amor, do peito, oriundo.



Frederico Salvo

5.12.10

Paródia


Haveria de ser mais que um dia.
Bem mais que a vibração de um momento.
Haveria de ser menos que o vento,
Mas além dessa imensa calmaria.

Pudesse ser bem mais que simples palha
Que o fogo da razão logo consome
E mesmo que aquém de um codinome,
Pudesse nominar algo que valha.

Mas é apenas troca de favores,
Paródia fria e pobre dos valores
De tudo o que de fato deveria.

Apenas um exemplo camuflado,
Teatro muito bem representado
Na peça que se chama hipocrisia.


Frederico Salvo

2.12.10

O encontro entre o rio e o mar


A madrugada convida.
Tudo me lembra você.
Essa espera contida,
Um turbilhão de prazer.
Essa certeza que o rio
Vai para o mar.
Essa clareza que a noite
Não pode apagar.

Você cruzou minha vida
Sem que eu pudesse prever.
Você abriu a ferida
Que a gente sente e não vê.
Você me diz compassiva:
_ Pode chegar.
Esse desejo é um rio,
Esse convite é um mar.

Eu abri meu coração,
Porque razão deveria esconder?
Você sente em minha mão,
Em meu olhar, enfim, você lê

Que o tempo não sabe esperar,
Que a espera só sabe roer
O peito de quem quer amar.

Ah! Eu deixo esse barco fluir...
A vida espera pra ver
O encontro entre o rio e o mar.



Frederico Salvo

25.11.10

Rosa-dos-ventos (poema musicado)



Olá, amigos!!

Para finalizar o mês de novembro deixo aqui um soneto do poeta e amigo Júlio Saraiva, que tive a felicidade de musicar.
Espero que gostem.
Abraço!




imagino teu vulto em valsa
: ave branca a ciscar o sono
na transparência do quimono
a fresca nudez se realça

murcham sapatos no abandono
para os longes foges descalça
deixando-me a chave falsa
parado à porta deste outono

mas o outono a mim não importa
: recuso à natureza morta
que se apresenta em tons cinzentos

e mudo os tons - uso outras tintas
além daquelas com que pintas
os rumos da rosa-dos-ventos.




(Soneto de Júlio Saraiva)

Protegido pela Lei dos Direitos Autorais N.o 9.610/98. O uso não facultativo - total ou parcial - do conteúdo exibido será tido como crime de plágio.

23.11.10

Impasse




A amarga continência da volúpia
Prudentemente poda o sentimento
Que solto quer voar conforme o vento,
E louco, convencer-me do contrário.

Em ti, imaginar não poderia,
Que houvesse, para a vida, mais sentido
E nem, tampouco, tanto colorido
Nas horas em perfeita companhia.

Um passo para trás, outro ao começo
E a dúvida cruel por qual padeço,
Um ósculo imprime em minha face.

Mas eu, me esmolambando de desejo,
Esqueço o gosto amargo desse beijo
E dou de ombro às dores desse impasse.


Frederico Salvo

19.11.10

Pela fresta da janela


Houve mais que um sussurro ontem. Houve
Mais que um perdido cão latindo ao longe.
Houve cruel razão qu'eu nunca soube,
Rasgando meu silêncio cru de monge.

Coube no peito meu o tudo. Coube,
Ambiguamente assim, o som do nada.
Ninguém p'ra perguntar baixinho: Ouve
A canção que se fez na madrugada?

Amanheci mais tarde nu e trouxe
Na boca um gosto amargo. A beberagem
Tornou todo o meu ser embriagado.

Um feixe-luz de sol aproximou-se,
Da fresta da janela fez passagem.

Liberto está meu peito estagnado.



Frederico Salvo

11.11.10

A espera de um poema




Deixo a mão pender sobre o silêncio
E os olhos baixarem a âncora no teu mar,
Pois nada mais me resta que esse sonho.
Esse peso sobre mim,
Folha branca a espera de um poema
Sobre a tua escrivaninha.
Calo-me e ouço os sons da tua boca
E a mímica do teu corpo
Traduzido por esses gestos
Que me abarcam a alma inteiramente.
Não me pergunto sobre o amanhã,
Nem sobre as horas seguintes a essa agora.
Não procuro saber o que serei
E nem o que serás no próximo segundo.
Cansei de prever o futuro. Apenas vivo.
E nesse momento te digo convictamente
E num sussurro em teu ouvido:
És como a bruma que passeia
Pela floresta virgem.
És como a chuva que cai ligeira
Depois de prolongado estio.


Frederico Salvo

6.11.10

Pote quebrado



Meu coração, esse pote quebrado,
Ainda guarda um palmo d’água fresca
Que afasta a sede, nutre e me refresca
Pelo deserto onde tenho andado.

É essa água que ainda me resta
Que umedece o peito ressecado,
Que mesmo pouca, supre e tem me dado
Alguma luz que a esperança empresta.

Meu coração, esse pote quebrado,
Guarda em seu bojo, precioso fluido
Que me dá vida quando a mim perpassa.

Néctar divino, líquido sagrado,
Que eu não a tenha à míngua por descuido.
Nunca me falte, mesmo sendo escassa.


Frederico Salvo

2.11.10

O chão por onde piso


Escuta. Quero que ouças em silêncio.
Esquece, pois temos tanto mais que isso.
Um passo num terreno movediço,
Está sujeito a erro. Assim penso.

Espera. O tempo, sabes, é senhor de tudo
E a vida cabe inteira num suspiro.
Portanto, se errando eu te firo,
Te dou o meu carinho como escudo.

Estive tão perdido sem teu braço,
E hoje se esses versos aqui traço
É tão somente por estar contrito.

Estanco a voz, recolho meu sorriso,
Pois a saudade é chão por onde piso.

Da dor de te perder, engulo o grito.


Frederico Salvo

28.10.10

O rastilho da pena (poema musicado)

Olá, amigos leitores.
Gostaria de encerrar o mês de Outubro, trazendo um poema do meu amigo e poeta José Silveira, que é também um leitor desse blog.
Tive a felicidade de musicá-lo e deixo aqui para a apreciação de vocês.
Agradeço pela presença.
Abraço a todos.




extraído do poema "Séricos I" de José Silveira
Música: Frederico Salvo
**************


Sempre ardo em febre
possuído por tantas palavras.
Nunca soube ao certo
o que escrevo

apenas assisto
o rastilho da pena

queimando o papel
gravando os versos
com riscos de fogo.

Mas ela veio
e me disse baixinho:
Não acredito que escrevas somente,

Acredito sim; “que pinta palavras
com cores quentes, as rimas febris
nesses versos ardentes...
palavra que cega-me,
mas fica.”


Todos os poemas estão protegidos pela Lei dos Direitos Autorais N.o 9.610/98. O uso não facultativo - total ou parcial - dos textos exibidos será tido como crime de plágio.

26.10.10

Dorme e sonha


Dorme.
Não há mais o que fazer
Essa noite.
Dorme e sonha,
Pois fazê-lo acordado
É sempre mais perigoso.
Esquece o mundo e dorme
Porque a hora não é mais exata
E talvez nem tão necessária.
Dorme.
Não há vestígios lá fora
Da noite boa que virou dia,
Do riso farto que virou noite.
Dorme e sonha,
Pois de sonhos quase não te recordas
Nem uma imagem fugidia
Numa fugidia madrugada.


Frederico Salvo

23.10.10

Abismo


Se não fosse todo esse abismo entre as nossas margens,
Seria seu o meu todo.
Sua pele o lençol que emolduraria o meu sono.
Sua boca o meu cálice.
Haveria de ter a felicidade o mesmo sabor dos nossos momentos,
A mesma intensidade das nossas entregas.


Frederico Salvo

16.10.10

Sol do meio-dia


Melodia linda de alaúde.
Iandara* (sol do meio-dia).
Alimento bom que me sacia.
Flor do amor maior qu'eu não pude.

Rebuscada tela do artista.
Nascimento, vida, riso fácil.
Poesia rica, indelével.
Paisagem que me enche a vista.

Só por ti meu verso se afina.
Só no teu amor eu acho graça,
Pois em ti traduzo meu segredo.

Cama, água, beijo, seda fina,
Lua, brisa, sonho, bela raça,
Alma, vinho, chuva, alegreto.


Frederico Salvo.

*Em tupi-guarani: "Sol do meio-dia"

13.10.10

A flor


Você que passa e vê
Que há tanta graça em mim.
Sou uma flor e o meu olor
Dou pra lhe satisfazer.

Não peço nada em troca. Não!
Desabrochada ou em botão
Dou-me de graça
Só pra prover intenso prazer.

No seio da floresta
Em festa me embelezo
Quando mais ninguém me vê.

E me visto de rainha
Mesmo quando estou sozinha
Porque quero apenas ser.

Se você se espelha em mim,
Eu me espelho em você.


Frederico Salvo

10.10.10

O sol da nossa infância



Desterrado está o peito a própria sorte
Frente às turbulências todas desse mundo.
Se na superfície está o homem forte,
Fragílimo infante habita o profundo.

Quem, por gesto nobre e claro, não daria
Muito mais de si de forma abnegada?
Quem, o coração exposto não traria,
Fosse qual criança pura, acalentada?

Ferve na fogueira ardente da vaidade
A água que escalda a vã sobrevivência,
Sopa que se faz durante a caminhada.

Quanto mais avança o curso da idade,
Mais o ocaso encobre o sol da nossa infância...
Menos florescida; mais subjugada.

Frederico Salvo

7.10.10

Quem é quem?


Quem é quem nesse contexto?
Ao certo, flor ou inseto?
Duas vidas. Um pretexto.


Frederico Salvo

5.10.10

Momento


Deixo a mão pender sobre o silêncio
E os olhos baixarem a âncora no teu mar,
Pois nada mais me resta além desse sonho.
Esse peso sobre mim,
Folha branca a espera de um poema
Sobre a tua escrivaninha.
Calo-me e ouço os sons da tua boca
E a mímica do teu corpo
Traduzido por esses gestos
Que me abarcam a alma inteiramente.
Não me pergunto sobre o amanhã,
Nem sobre as horas seguintes a essa agora.
Não procuro saber o que serei
E nem o que serás no próximo segundo.
Cansei de prever o futuro. Apenas vivo.
E nesse momento te digo convictamente
E num sussurro em teu ouvido:
És como a bruma que passeia
Pela floresta virgem.
És como a chuva que cai ligeira
Depois de prolongado estio.


Frederico Salvo

2.10.10

Línguas


“Uma pessoa ocupada em servir nunca dispõe de tempo para comentar injúria ou ingratidão”.


Enquanto línguas cortantes, ferinas,
Só dão notícias das vidas alheias.
Enquanto arestas, farpas pequeninas
Se enroscam em ardilosas teias,
Outras entoam constantes, divinas,
Em outros pontos, em outras aldeias
A poesia de sensatas rimas,
A melodia de maviosas colcheias.
E nessa arte, desprendidas servem,
Enquanto as lavas desse mundo fervem
Num vulcanismo de intensa fúria.
São como botes contra a correnteza
Desafiando a humana natureza,
Num oceano de ingratidão e injúria.


Frederico Salvo

26.9.10

Soneto sobre a saudade




Olá pessoal!!
Quero trazer como última postagem do mês de setembro o meu "Soneto sobre a saudade" já publicado aqui, mas agora com uma especial interpretação do radialista e amigo Odair Leite da Silveira. Odair é um leitor desse blog e me deu de presente essa magnífica interpretação. Fica o meu abraço especial a ele e o meu desejo que o trabalho possa tocar a vocês assim como tocou a mim.
Um grande abraço.

Frederico Salvo

Música após o soneto: "Onde anda você" de Toquinho e Vinícius de Moraes, na voz de Altemar Dutra.



Quando você se vai a saudade aparece.
Implacável permeia minha existência.
E chego a pensar que é como se ela quisesse,
Por vontade própria, celebrar convivência.

Apressa-se em fazer, do meu peito, morada,
Compondo sorrateira a sua cantiga
Para fazer serenata de madrugada
E dragar, assim, minh’alma combalida.

Mas eu me aprumo e desfiro um golpe certeiro
Bem na fronte da saudade fria e malvada,
Encostando-lhe o sabre sobre a lapela.

E assim, estando em seu minuto derradeiro,
Sorri sabendo que eu não posso fazer nada,
Pois é seu rosto que está no rosto dela.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

25.9.10

Alvorada



Não vejo o fim da estrada.
Aquém, meus olhos vêem
A beleza d'alvorada.



Frederico Salvo

23.9.10

Distintos caminhos


Embora eu tente ser justo e sensato
E nutra por ti um sentimento nobre,
Mesmo que em mim o desejo dobre,
Da volúpia cega, guardo-me recato.

Porque cada entrega arde e machuca;
Por haver em nós distintos caminhos.
Há uma certeza rude na luta:
Sofreremos juntos, mais do que sozinhos.

Fujo dessa dor, faço-me recluso,
Pois dessa maneira sinto-me excluso
Do sofrer maior de te ver chorando.

Cada verso meu é como um aprisco,
Pois na poesia eximo-me do risco
De amar ferindo, de morrer gostando.


Frederico Salvo


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Direitos efetivos sobre a obra.

20.9.10

Embarcação



Minha barca corta o rio.
Enquanto navega, eu canto
As gratas imagens que crio.


Frederico Salvo

18.9.10

Solar


Não fere os olhos o sol agora.
É horário de olhá-lo de frente,
Pôr nele os sonhos se for aurora,
Se crepúsculo, o coração latente.

E rir um riso de fogo brando
Sob o rubro-laranja do divino.
Sentir a alma se esvaziando,
Tornar-se puro feito um menino.

Flui o sangue nutrindo as células,
Arde a chama clareando a mente,
Faz-se a vida num ciclo perfeito.

Como flor d’incandescentes pétalas
Tenho um sol sereno à minha frente,
Um outro ardendo dentro do peito.


Frederico Salvo



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Direitos efetivos sobre a obra.

13.9.10

Soneto do desprendimento


Se a ti, conscientemente, impeço
De realizares tuas quimeras;
Assim também, consciente, ingresso
Ao incômodo rol das bestas-feras.

Se do fruto que colher queres tanto
De fato não posso ser a semente,
Não é justo que eu me sirva, portanto,
Para meu doce deleite, somente.

Se pudesse não sofrer; _ Quem me dera!
Se me perdesse em profundo sono;
Remediado estaria esse inferno.

Vai, então, no auge da primavera;
Que eu fico aqui em meu outono,
Pois não mereces, da vida, esse inverno.


Frederico Salvo



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Direitos efetivos sobre a obra.

11.9.10

A maré


És minha lua.
Sim. És minha lua.
E em mim toda a maré,
Como flutua
Em tua direção,
Todas as vagas
E a luz no leito meu
É toda tua.

Um imã lá no céu
Que anuncia
Que além do meu dossel
De fantasia
Existe uma atração
E a flor da água
Quer ir ao rumo teu
Por essa via.


Frederico Salvo

7.9.10

Pequena luz de vela


Somente a solidão, imensa, verdadeira,
A dona da razão, embora muito áspera,
Inunda o coração no seu limite máximo,
Fareja feito cão a vida passageira.

Da última vilã, legítimo prefácio.
A mínima fração do que nos diz o nada.
E mesmo que na vida esteja mascarada,
Erige-se na sombra; impávido edifício.

Se o gosto desse fel escorre na garganta,
Aperta o teu passo, dá de ombros, canta
A única canção que aplaca essa dor.

E mesmo qu’esse canto seja à capela,
Em meio à escuridão, pequena luz de vela,
É claro e altaneiro, é fogo, é amor.

Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

5.9.10

O ciclo das águas


Abra sua boca agora
E deixe entrar a esperada chuva.
Sinta-se como se fosse a terra
Sorvendo, sôfrega, essa água.
Sinta-se umedecer por dentro
E crie a condição propícia
Para que seus sonhos venham
Como a relva nova,
Para que seus males
Eclodam como as ervas daninhas.
Cuspa as desventuras
E os gestos interrompidos;
Sue as frustrações incorporadas,
Recenda à esperança das conquistas futuras.
Guarde em si
A essência que toda semente adquire
Ao germinar no ventre da sagrada terra.
Depois, seja a seiva do broto,
A nódoa, o perdigoto
Do sumo dessa fruta doce
Que agora tenho em minha boca.


Frederico Salvo




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Direitos efetivos sobre a obra.

1.9.10

Tatuagem


A tempo ainda, de roldão, por tudo...
De mergulhar novamente, com tato,
Impregnado desse “entregar-me” inato
Que põe entre nós o medo como escudo.

Enveredado em ti, ardo como louco,
Do teu olhar retiro meu sustento
E nossos corpos nus e juntos ao relento,
De serem um só, escapam por bem pouco.

Deixas em mim, no peito, tatuado
A marca d’um querer imenso, desmedido.
E uma pedra sobre as dores do passado.

Inédita canção brincando em meu ouvido.
Da boca prolixa o inaudito brado.
Mistura estonteante de amor e libido.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

24.8.10

Tema breve (instrumental)




Olá, amigos!!
Para finalizar o mês de agosto deixo para audição de vocês o meu "Tema breve", composição que usei para musicar o poema "Calmaria", postado por mim aqui no mês de junho de 2010.
A todos o meu muito obrigado pela presença.
Abração!
Frederico.


Frederico Salvo: violão

22.8.10

Das incertezas do amor - II -


Finjo não ver teus defeitos
Ultrapassando a largura dos ombros.
Abro os braços e abraço-te plenamente,
Imbuído de profundo e sincero afeto.
Afinal os teus dedos me vão além da epiderme.
Só eles perpassam a fáscia e os músculos
E exploram os meandros da minha alma.
Defeitos?! Decerto todos os temos,
Mas fecho meus olhos a eles.
Sorrio um sorriso quase franco
E escondo as miudezas que me fazem pensar
Que posso estar enganado.
Poderiam soprar em meus ouvidos
Que haveria de ter sido mais feliz
Se tivesse me dado àquele amor primeiro.
Te amo porque me é seguro que seja assim.
Ao som das canções que emolduram o nosso passado,
Nossas fotografias mostram olhares iluminados.
E hoje tenho a profunda convicção
De poder dizer-te: Somos felizes?


Frederico Salvo

20.8.10

Guerra e paz


A poesia não é nada mais
Do que memória de original pureza.
É a lembrança segura do cais,
É inocência, é delicadeza.
Se aventura-se por outros caminhos...
Pesados versos, amargas palavras...
Onde o poeta ferido de espinhos
Se despedaça frente às ondas bravas,
É tão somente pálido reflexo
Da alma artista a debater-se sôfrega,
Desesperada a procurar por nexo.
Em intrincado jogo tão complexo,
É branca paz a repousar no côncavo,
Mas é também a guerra no convexo.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.


18.8.10

Pensamento


O pensamento é grande, rápido e livre,
Podendo estar aqui ou lá no Himalaia.
Atreve-se a fluir por baixo da saia
Da mais bela mulher com quem nunca estive.

Ninguém pode contê-lo, atá-lo ou fazê-lo
Estar onde não queira estar por vontade.
E mesmo que o maior segredo ele guarde,
Somente quem o pensa pode sabê-lo.

Imensurável glória do ser humano;
Que seja científico, sacro ou profano,
O saldo d’uma vida em ágil segundo.

Conduz-nos pelo breu dos mares bravios,
Farol a dar destino a nossos navios...
Assim é o pensamento: luz desse mundo.



Frederico Salvo
*******************************************
Direitos efetivos sobre a obra.

16.8.10

Quando acordares...



Quando acordares...
Não te esqueças de lembrar
Que alguém considerou-te desmedidamente
Como um cais...
A última esperança de um sonho vago
Pela vida...
Pelos caminhos sinuosos enfrentados.
Alguém que, desacreditando do mundo,
Depositou em ti
Tudo o que afronta a impossibilidade...
A inoperância de sonhos maiores...
A utopia desajeitada dos primeiros anos.
Saiba, ao despertares,
Que a síntese de tudo que resistiu calado
Dentro desse peito delirante, ensandecido,
Repousou em ti em determinado momento...
E que esse momento
Refaz-se exponencialmente
Em minha luta por não entregar-me.
Quando teus olhos se abrirem
E virem a primeira imagem do dia,
Estará lá minha verdade,
Posto que sou chama viva
De tudo aquilo em que pousarem.

(agosto de 2010)



Frederico Salvo
******************************************
Direitos efetivos sobre a obra.

14.8.10

Soneto sobre a saudade


Quando você se vai a saudade aparece.
Implacável permeia minha existência.
E chego a pensar que é como se ela quisesse,
Por vontade própria, celebrar convivência.

Apressa-se em fazer, do meu peito, morada,
Compondo sorrateira a sua cantiga
Para fazer serenata de madrugada
E dragar, assim, minh’alma combalida.

Mas eu me aprumo e desfiro um golpe certeiro
Bem na fronte da saudade fria e malvada,
Encostando-lhe o sabre sobre a lapela.

E assim, estando em seu minuto derradeiro,
Sorri sabendo que eu não posso fazer nada,
Pois é seu rosto que está no rosto dela.





Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

11.8.10

Não me basta


Aceito que seja assim,
Mas não me basta.
Quero mesmo é saber
Por onde o fio passa.
Em que viés,
Em que fundo de agulha...
Por onde a vida perpassa.

Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

9.8.10

Noturno


Fustiga-me o brilho da tua luz,
Imensa luz à flor da tua estada.
Pousa intranqüila em meu coração de lata,
Que bate agora cheio de tanto nada.
Fustiga-me a ponto de cegar-me a tudo
Que não esteja agregado a tua aura,
Que não seja aquém do que não quero longe,
Dentro do achegado muito à tua alma.
Danço a dança do não saber-me vivo
Dentro da tua trama a respeito da vida,
Incerta, imprevista, na tela projetada.
Canto a melodia (quimera adormecida).
Um pálido lamento, um lúgubre motivo,
Sem pausa ou dinâmica, sem coda...inacabada.


Frederico Salvo
*****************************************
Direitos efetivos sobre a obra.

6.8.10

Soneto para uma boa companhia


Um minuto em tua boa companhia,
Não sei explicar exatamente,
Mas é como algo que fermente...
Transforma-se sempre em um grande dia.

Um minuto em tua boa companhia
Jamais se esgota em si mesmo,
Tampouco se perde a esmo.
Envolve, enlaça, contenta, sacia.

E é justamente esse hiato
Que te faz interessante
E que a minh’alma abriga.

E já não posso esconder de fato
Que és, assim, um ponto eqüidistante
Entre a mulher,a amante e a amiga.

Frederico Salvo

3.8.10

Pés



Teus pés:
Doce lembrança.
Imagem constante
E que não cansa.
Epígrafe e símbolo
Do que me arrebata.
A grata forma,
A forma grata
De conduzir
Os passos dessa dança.

O duplo mimo
Que instiga
E desnorteia.
Razão ...
Que põe mais sangue
Em minha veia
E traz a essa peia
Mais pujança.

Grilhão...
Eis que minhas mãos
Tornam-se tanto.
A prenderem-te os pés
Como a uma escrava
Que lava meu dossel
Com tal encanto
Num canto de desejo
E intemperança.


Frederico Salvo

1.8.10

Tenaz



Tornou-se melhor porque,
à sombra do teu descanso,
exercitou-se carregando pedras.


Frederico Salvo

26.7.10

Rochedo (Canção)




Eu não sei ser diferente
Só sou o que sou.
Não adianta você me querer
Como você sonhou.
É duro saber que um sonho
Está muito além da realidade.
É duro saber que a verdade
Nem sempre nos convém.

Não me condene
Por eu não ser como você,
Pois eu teria defeitos
Que você nem vê.
Não deixe a porta aberta
Quando você sair.
Saudade é coisa incerta,
Pode querer vir.

Não quero estar à deriva
Quando a saudade chegar.
Quero ser um rochedo
Plantado à beira-mar.
Luz que brilha sozinha
Em meio à escuridão.

...Deixa passar o verão.



Frederico Salvo. (Letra e música)


N U O N S


NUONS: Frederico Salvo: violão aço e voz. Fernando Magrão: violão nylon e vocais. Aylton Azevedo: violão nylon e vocais. Paulo Laranja: contrabaixo e vocais. Tiago Peixoto: Bateria (part. especial).
Gravação: Lucas estúdio.

24.7.10

O último suspiro


É somente meu o que eu sinto.
A ninguém mais cabe o que me passa.
Essa chama ardente que eu pressinto,
Não tens culpa tu se me perpassa.
É somente meu esse delírio,
Esse devaneio que não finda.
É da minha alçada esse martírio,
Esse amor que insiste em mim ainda.
É somente um último suspiro
De quem perseguiu o que não via,
De quem fez do nada sua caça.
É somente um sonho que retiro
Desse meu baú de fantasia
E que à realidade dou de graça.

Frederico Salvo



música incidental: Peer Gynt Suites Nos 1 & 2 for orchestra - Edvard Grieg

22.7.10

Quando adormecem as personagens


Aquela primeira imagem tosca
Que viste ao desabrochar da primeira lua;
Aquele sorriso de meia boca
Que deixaste escapar quando viste,
Já não são assim tão distantes;
Bailam no mesmo quadrado macio,
Na mesma penumbra cálida do quarto.
Tudo porque um gesto lânguido e calculado
Chegou até aquele olhar desatento,
Despertando algo que há muito adormecera.
E esse gosto acre que agora tens na boca
Porque bebeste comigo durante toda à noite,
Nos trouxe até aqui.
E já não te perturba mais as nossas diferenças,
Nem tens mais aquele ar superior que trazes sempre contigo.
Deixaste pendurado no closet, sua roupa
E a máscara que usas freqüentemente.
Nua tu te revelas em meus braços;
Tens no corpo e na alma
Apenas tua simplicidade de fêmea.





Frederico Salvo

20.7.10

Renascença


Esse jeito teu, esse teu corpo
A luzir em movimento raro
Faz perder o ar. Tão absorto
Trago o olhar ardente a por reparo

Nos teus pés e mãos, nesse teu colo,
Nessa boca dona d’um sorriso
A zombar de mim porque me coro
Só por ver teu todo tão preciso.

Contagia a tudo essa presença
Tão bem-vinda quanto a renascença
A trazer-me a luz que não me ilude.

Faz eterno parecer o tempo,
Traz ao peito meu, contentamento;
Quero em ti o amor que nunca pude.


Frederico Salvo.