21.4.10

Pois é (poema musicado)




Pois é!
Será o fim?
Amar será pra mim?
Escaldado outra vez
Pela minha insensatez,
Amargurando o desgosto,
Tendo estampado no rosto
A minha dor.
Cansei de ser o retrato
Da desilusão,
Cansei de pagar o pato
Por apostar na paixão.
Acho que agora emendo,
Sei que o amor é um mel,
Mas estou indo embora.
"Cadê" o meu chapéu?

Sei que errar é humano
E meu desengano
Foi por que errei.
Sei que é difícil dizer:
Dessa água jamais beberei.


Letra e música: Frederico Salvo
Violões: Frederico Salvo

19.4.10

Antessala


O que dizer desses olhos que eu não vejo
Ou dessas mãos que não tocam meus cabelos?
O que falar dessa boca que eu não beijo
Ou desses pés que não roçam os meus pêlos?

O que dizer desse corpo que eu não sinto,
Dessas palavras exatas que eu não ouço?
O que fazer da bonança que eu pressinto,
Mas que se esvai no hiato d’um soluço?

Não digo nada. O silêncio é meu refúgio.
A longa pausa na pauta d’um prelúdio
Ou antessala desse sonho que não passa.

Se me tortura a pontada do espinho,
Eu sigo e sorvo outro trago desse vinho
Que inebria e transborda minha taça.



Frederico Salvo

17.4.10

À beira do caminho


A flor mais simples e singela guarda
O esplendor de toda a natureza.
Sob insignificante e simplória farda,
Reside a face oculta da beleza.

Nos matizes de pouca relevância,
Na roupagem de parca realeza,
Desprovida de qualquer exuberância
Repousa disfarçada a grandeza.

Mas o viajor que cruza a estrada,
Nem a repara à beira do caminho;
Prefere à flor que pende cobiçada,
Mesmo que fira-lhe a mão com seu espinho.


Frederico Salvo

13.4.10

O mundo é de quem não sente



Qual terá sido o contexto em que ele disse:
“O mundo é de quem não sente”.
Teriam pisado em sua sensibilidade?
Teriam os espinhos e injustiças
Ferido seu coração de poeta?
Só sei que, em silêncio, deixou correr sua pena
E entregou mais um raro poema.
Depois adormeceu...
Sem perceber que o mundo era muito mais que seu.

Frederico Salvo

11.4.10


Se eu pudesse encontrar o fio da meada
Nesse intrincado nó. Tranqüilo desfazê-lo.
Trazer a linha toda ao corpo do novelo
E a trama, novamente, começar do nada.

Poder fazer de mim o meu próprio modelo.
Usar o que aprendi em cada tricotada.
Traçar o fio, então, de forma apurada.
Fazer o meu melhor do hálux ao cabelo.

Saber exatamente o ponto a ser usado:
Trançado, retilíneo, fixo ou cruzado,
Nas pregas do bordado, cós... em cada dobra.

Pudesse ser assim e tudo então seria
Na vida, certamente, como eu gostaria,
Mas sábio Deus, por fim, nunca deu asa a cobra.


Frederico Salvo

10.4.10

Desvario


Como entender a tua brejeirice
Enclausurada num furor de Beija
E a inocência leve de Alice
Subjugada a um qualquer que seja?

Como entender teus múltiplos deslizes,
A tua lógica dissimulada
E o passado, que habita em cicatrizes,
Aberto em ardente e tortuosa chaga?

Não há caminho, nunca houve nada;
Só um errante e cego desvario
Que se perdeu na torpe madrugada.

Um sonho louco, breve, fugidio.
Uma verdade crua, mascarada...

Realidade rude e vil.... no cio.


Frederico Salvo

7.4.10

Lar


Aqui, onde mora a atemporalidade,
Nesse espaço de isenta ignomínia,
Minha porção de firmamento,
Meu quinhão da ancestralidade.
Aqui, onde me aflora a criança
E me dispo da sociabilidade,
Há essa calma no final do dia,
Esse afresco de luminosidade...
Meu lar, meu lar querido,
Onde repousa o meu corpo,
Onde aporta o meu espírito.
Bendito seja meu lar...
Esse protótipo do infinito.


Frederico Salvo

5.4.10

Pela palavra


Eu transcendi a esse mundo tosco,
Rude cenário de astros decaídos.
Eu disse não a esse brilho fosco
E fiz brilhar faróis adormecidos.
Pela palavra rejeitei o medo,
Deixei morrer o homem preocupado;
Vi soçobrar a ira bem mais cedo,
Antes que o céu, em mim, fosse nublado.
Refugiei-me em versos, fiz abrigo,
Em cada tema esgotei meus ais,
Que em poemas vêm brincar comigo.
A brisa leve sopra muito mais,
Sou de mim mesmo muito mais amigo,
Pois hoje atraco o barco nesse cais.

Frederico Salvo

3.4.10

Liberdade


Daqui só desço por necessidade,
Porque me queima a chama desse mundo.
Daqui do alto não sou vagabundo
E vejo todas as luzes da cidade.
Daqui só saio por sobrevivência,
Porque, enfim, não há outra saída.
Enxergo a volta no romper da ida,
Pois me maltrata a subserviência
A esse jogo de cartas marcadas,
A esse baile de faces mascaradas,
A esse mar de forças divididas.
Aqui no alto, sopra a liberdade,
Que me sustenta, lança claridade,
Planta a verdade, cura as feridas.


Frederico Salvo

1.4.10

Das incertezas do amor - III -


Esse amor que você sabe dar,
Pode dar e não dá...
É exatamente o amor que transforma.
Esse que lhe põe em risco,
Que sempre se retêm nos seus gestos,
Na sua língua.
Esse amor que vai se acumulando
E que em determinado momento
Parece querer romper a barragem,
Mas que, por sua sorte, vai se esgotando
Nos ouvidos do seu terapeuta.
Esse amor que asfixia
É o mesmo que revitaliza os alvéolos
E que alimenta as células de vida nova,
De fôlego benfazejo, e pelo qual
A vida lhe fez recear.
Esse amor que se perde no ar
Feito um balão de gás,
É também o que leva atado em si,
Por um céu azul de aparente calma,
O seu velho e surrado sonho de felicidade.


Frederico Salvo