27.5.10

O país do faz pra mim (poema musicado)






Que país é esse, heim ô?!!

Ah! Que triste fim. Que triste fim.
Viver no país do faz pra mim.

Lá tem ovo, tem mandioca,
Tem batata e amendoim,
Mas não tem sopa, nem paçoca,
Não tem purê, nem quindim.
É o país da riqueza,
Dos tesouros no jardim,
Mas falta feijão sobre a mesa,
Sobram preguiça e capim.

Ah! Que triste fim. Que triste fim.
Viver no país do faz pra mim.

Lá tem calor à vontade,
Tempo bom e eterno assim,
Mas falta a luz da verdade,
Há um breu maior enfim.
Tem o progresso por conduta
E igualdade por fim,
Mas com tanto filho-da-puta
Roubando; Será que sim?
Heim?!!

Ah! Que triste fim. Que triste fim.
Viver no país do faz pra mim.


Eu faço a denúncia em verso,
Pois prosa não é pra mim.
Por isso, amigo, te peço:
_Piedade! Faz pra mim?



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

23.5.10

Cabo Frio


Se te navego em doces remos n’água,
Cá nessa praia onde foste musa.
Se o salino gosto em minha língua,
Uma saudade imensa em mim acusa.
É porque aqui, nas dunas desse cabo,
Ficaram bem marcadas as pegadas.
Na areia branca, nesse verso vago,
Agora acendo luzes apagadas.
Lá se vão anos, décadas, lembranças
De quando nossos sonhos de crianças,
Aqui vieram ter em doce cio.
Nenhuma luz, meu Deus, nenhum afago
P’ra derreter o gelo que hoje trago...
Reminiscências nesse peito frio.

Frederico Salvo

19.5.10

Rascunho


Escaparam os versos à pena.
Como bem-te-vis assustados
Ao rugir da ventania.
Escaparam sem deixar nenhum rasto.
Criaram asas os versos.
Ouço o canto na aurora,
Mas me escapa a imagem à pena.
A pena amarela do peito
Dos bem-te-vis assustados.
Só em meu rascunho
Uma rima incompleta,
Voando tal qual uma pena.
Que pena...
Saudoso poeta.


Frederico Salvo

16.5.10

Passos atrás


Subtrai de cinco, meia dúzia e terás o nada ainda maior que ele mesmo.
Passos atrás são por vezes necessários, mas não tantos que possam comprometer a viagem.

Frederico Salvo

10.5.10

Oração



Não há conformismo em saber-me finito,
Quando à noite, insone, essa flecha ataca.
Quem sabe fazer essa tormenta fraca?
Quem pode amainar esse peso maldito?

Deram-me um rosário e por vezes rezo.
Frágil, entrego-me às mãos do Bendito:
_ Acalma, Senhor, esse meu peito aflito.
Envolva-me em paz, essa a que tanto prezo.

De fato se dá um benfazejo alívio,
Com’uma canção a serenar-me a alma
Que, ora mais leve, gira num remanso.

Num halo dourado, claro, indizível,
Meu corpo levita numa serena calma,
E enfim, já inerte, em sonho, descanso.


Frederico Salvo

8.5.10

Incompletude


Como entender essa avalanche de sentido
Que traz à tona essa porção de entendimento?
Ter essa voz aqui tão perto em meu ouvido,
Ser como um galho arrebatado pelo vento.

Tal como a terra ao receber a chuva fria
Depois de um dia escaldante (sol a pino).
Como não ter na boca um riso de alegria
Como um daqueles do meu tempo de menino?

Não se explicam certas coisas. Não se sabe
Como é a face do amor, nem se concebe
Qual a razão dessa eterna incompletude.

Por que querer guardar inteira se não cabe
No coração, nem muito menos se percebe
Por onde esvai essa emoção que nos ilude?


Frederico Salvo

6.5.10

Mão


Mão.
Dinâmica e perfeita.
Exata ferramenta,
Da sintonia fina da minúcia
À força impensável e violenta.
Atalho ao divino quando posta
À outra que comunga em apelo.
A trilha do carinho que no peito
Nasceu e que por ela, agora imposta,
Irá levar o amor a quem se gosta.
Bendita desmesura em desvelo.
Intensa na cadência ritmada
Do dedilhar das cordas desse pinho.
Da energia, invólucro perfeito,
Que guarda a saudade num aceno,
Transforma-se em gesto obsceno
Ou faz de outra mão, cálido ninho.
Mão.
Que vaga pela tua pele nua,
Estende-se no ar pedindo a tua,
Enxuga o pranto teu...
Devagarinho.


Frederico Salvo

1.5.10

Sagrada ingenuidade


Quero a criança que existe em mim.
Sim. Aquela que olhava as ruas ensolaradas
E respirava o vento matinal
Sem preocupações metafísicas,
Sem entender os adultos.
Quero que ela saia numa explosão transbordante,
Banhando beneficamente minha alma,
Cicatrizando feridas emocionais.
Quero que corra risonha em minhas veias,
Irrigando todo o meu corpo
Daquela sagrada ingenuidade.


Frederico Salvo