26.9.10

Soneto sobre a saudade




Olá pessoal!!
Quero trazer como última postagem do mês de setembro o meu "Soneto sobre a saudade" já publicado aqui, mas agora com uma especial interpretação do radialista e amigo Odair Leite da Silveira. Odair é um leitor desse blog e me deu de presente essa magnífica interpretação. Fica o meu abraço especial a ele e o meu desejo que o trabalho possa tocar a vocês assim como tocou a mim.
Um grande abraço.

Frederico Salvo

Música após o soneto: "Onde anda você" de Toquinho e Vinícius de Moraes, na voz de Altemar Dutra.



Quando você se vai a saudade aparece.
Implacável permeia minha existência.
E chego a pensar que é como se ela quisesse,
Por vontade própria, celebrar convivência.

Apressa-se em fazer, do meu peito, morada,
Compondo sorrateira a sua cantiga
Para fazer serenata de madrugada
E dragar, assim, minh’alma combalida.

Mas eu me aprumo e desfiro um golpe certeiro
Bem na fronte da saudade fria e malvada,
Encostando-lhe o sabre sobre a lapela.

E assim, estando em seu minuto derradeiro,
Sorri sabendo que eu não posso fazer nada,
Pois é seu rosto que está no rosto dela.



Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

25.9.10

Alvorada



Não vejo o fim da estrada.
Aquém, meus olhos vêem
A beleza d'alvorada.



Frederico Salvo

23.9.10

Distintos caminhos


Embora eu tente ser justo e sensato
E nutra por ti um sentimento nobre,
Mesmo que em mim o desejo dobre,
Da volúpia cega, guardo-me recato.

Porque cada entrega arde e machuca;
Por haver em nós distintos caminhos.
Há uma certeza rude na luta:
Sofreremos juntos, mais do que sozinhos.

Fujo dessa dor, faço-me recluso,
Pois dessa maneira sinto-me excluso
Do sofrer maior de te ver chorando.

Cada verso meu é como um aprisco,
Pois na poesia eximo-me do risco
De amar ferindo, de morrer gostando.


Frederico Salvo


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Direitos efetivos sobre a obra.

20.9.10

Embarcação



Minha barca corta o rio.
Enquanto navega, eu canto
As gratas imagens que crio.


Frederico Salvo

18.9.10

Solar


Não fere os olhos o sol agora.
É horário de olhá-lo de frente,
Pôr nele os sonhos se for aurora,
Se crepúsculo, o coração latente.

E rir um riso de fogo brando
Sob o rubro-laranja do divino.
Sentir a alma se esvaziando,
Tornar-se puro feito um menino.

Flui o sangue nutrindo as células,
Arde a chama clareando a mente,
Faz-se a vida num ciclo perfeito.

Como flor d’incandescentes pétalas
Tenho um sol sereno à minha frente,
Um outro ardendo dentro do peito.


Frederico Salvo



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Direitos efetivos sobre a obra.

13.9.10

Soneto do desprendimento


Se a ti, conscientemente, impeço
De realizares tuas quimeras;
Assim também, consciente, ingresso
Ao incômodo rol das bestas-feras.

Se do fruto que colher queres tanto
De fato não posso ser a semente,
Não é justo que eu me sirva, portanto,
Para meu doce deleite, somente.

Se pudesse não sofrer; _ Quem me dera!
Se me perdesse em profundo sono;
Remediado estaria esse inferno.

Vai, então, no auge da primavera;
Que eu fico aqui em meu outono,
Pois não mereces, da vida, esse inverno.


Frederico Salvo



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Direitos efetivos sobre a obra.

11.9.10

A maré


És minha lua.
Sim. És minha lua.
E em mim toda a maré,
Como flutua
Em tua direção,
Todas as vagas
E a luz no leito meu
É toda tua.

Um imã lá no céu
Que anuncia
Que além do meu dossel
De fantasia
Existe uma atração
E a flor da água
Quer ir ao rumo teu
Por essa via.


Frederico Salvo

7.9.10

Pequena luz de vela


Somente a solidão, imensa, verdadeira,
A dona da razão, embora muito áspera,
Inunda o coração no seu limite máximo,
Fareja feito cão a vida passageira.

Da última vilã, legítimo prefácio.
A mínima fração do que nos diz o nada.
E mesmo que na vida esteja mascarada,
Erige-se na sombra; impávido edifício.

Se o gosto desse fel escorre na garganta,
Aperta o teu passo, dá de ombros, canta
A única canção que aplaca essa dor.

E mesmo qu’esse canto seja à capela,
Em meio à escuridão, pequena luz de vela,
É claro e altaneiro, é fogo, é amor.

Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.

5.9.10

O ciclo das águas


Abra sua boca agora
E deixe entrar a esperada chuva.
Sinta-se como se fosse a terra
Sorvendo, sôfrega, essa água.
Sinta-se umedecer por dentro
E crie a condição propícia
Para que seus sonhos venham
Como a relva nova,
Para que seus males
Eclodam como as ervas daninhas.
Cuspa as desventuras
E os gestos interrompidos;
Sue as frustrações incorporadas,
Recenda à esperança das conquistas futuras.
Guarde em si
A essência que toda semente adquire
Ao germinar no ventre da sagrada terra.
Depois, seja a seiva do broto,
A nódoa, o perdigoto
Do sumo dessa fruta doce
Que agora tenho em minha boca.


Frederico Salvo




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Direitos efetivos sobre a obra.

1.9.10

Tatuagem


A tempo ainda, de roldão, por tudo...
De mergulhar novamente, com tato,
Impregnado desse “entregar-me” inato
Que põe entre nós o medo como escudo.

Enveredado em ti, ardo como louco,
Do teu olhar retiro meu sustento
E nossos corpos nus e juntos ao relento,
De serem um só, escapam por bem pouco.

Deixas em mim, no peito, tatuado
A marca d’um querer imenso, desmedido.
E uma pedra sobre as dores do passado.

Inédita canção brincando em meu ouvido.
Da boca prolixa o inaudito brado.
Mistura estonteante de amor e libido.


Frederico Salvo
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Direitos efetivos sobre a obra.