24.12.10

Insânia (poema musicado)



Amigos leitores,
Encerrando o mês de dezembro e conseqüentemente o ano de 2010, deixo para vocês o poema "Insânia" de autoria do meu amigo e poeta carioca José Silveira e que tive o privilégio de musicar. Agradeço a todos pela presença durante esse ano e desejo um Feliz Natal e um Ano Novo cheio de saúde e paz a todos.
Abraço fraterno!
FS








Eu criei na minha inspiração
Lapidei teu corpo
com cinzéis.
Fiz-te verdade,
louca imaginação.
Possui tua carne em sonho bom.
Possuíste-me a alma
Enlouqueci
na calma
quando te vi luz e
poesia.
Cegaste-me o olhar
E eu dormi.
Perdi-te ao acordar.
Morri.
Para nunca mais sonhar.
Amar-te-ei!?
Utopia!
Eu...
Eu só...
Só eu.

Frederico Salvo e José Silveira


Todos os trabalhos estão protegidos pela Lei dos Direitos Autorais N.o 9.610/98. O uso não facultativo - total ou parcial - do conteúdo exibido será tido como crime de plágio.

21.12.10

Sopoema


(Puta dor de cabeça
essa de me meter
a compor versos).

Deixo a pena correr solta
Enquanto preparo
Um cozimento.
Um engrossado de palavras
Suculento poema novo
De tempero agridoce.
Cheiro inebriante
A envolver o ambiente.
Ponho-me a giroverter
A mistura.
Dela já me adentra
às narinas o vapor espesso,
Uma cortina densa
Ao meu olfato.

Depois me sento
E saboreio o poema
Ouvindo
O som inconfundível
Do sorver o caldo.


Frederico Salvo

19.12.10

Rompantes - I -




Indigestão de peixe
é comer minhoca
com recheio de anzol.

**

Pontadas nas costas:
motivo maior
da insônia do faquir.

**

Por trás do feroz leão
Havia uma avestruz
Com a cabeça no buraco.

**

Um mar seco
Cabe inteirinho
Dentro de uma concha.

**

Se se visse no espelho
A barata entenderia
O porquê da chinelada.

**

Frederico Salvo

17.12.10

Alquimista


Assomam-se
as horas perdidas
e da minha boca
nenhuma palavra
a salvo.
Apenas
esse murmúrio rouco
das mesmices estonteantes.

E eu com a roupa da alma...
pele, pura e simples,
invólucro
desse tantinho
de universo
esmiuçado em um corpo
que tange
as cordas da vida,
entoo
o mesmo canto possível
que já conheces há muito.

O teu entendimento
é o cálice que recebe
o sumo do que sou,
e me bebes com expressão
de prazer no rosto.

Alquimista
a separar a pureza da uva
da acidez corrosiva
e estonteante
do meu álcool.


Frederico Salvo

12.12.10

Chão de incerteza


Enquanto a vida passa, ficam esses momentos.
Somente alguns instantes; fugazes navios
Rasgando bravamente esses mares bravios
Fazendo esquecidos todos os tormentos.

Um gosto prazeroso brincando na boca
E a ânsia adormecida em berço embalado
Por mãos que se confundem, por gestos desejados,
Nos únicos minutos dessas horas poucas.

Depois vem o vazio, o chão de incerteza,
O navegar sombrio em águas estrangeiras
E a vaga melodia d’um sentimento solo.

Espalhadas lembranças, soltas sobre a mesa,
De cada verso meu se apossam ligeiras...
Nas tramas d’um soneto breve me consolo.


Frederico Salvo

8.12.10

Inesquecível


Nem mesmo toda distância desse mundo.
Nem hoje, nem amanhã, nem no ocaso.
Acaso navegue o barco em mar profundo
Ou singre pelo ribeiro em leito raso.

Nem mesmo a rapidez de um segundo
Ou tempo distribuído em menor prazo.
Nem caso que torne o fértil, infecundo
Ou plante minha semente n’outro vaso,

Faria com que de ti eu me esquecesse,
Traria ao meu querer algum atraso
E o ardor, impediria de ir mais fundo.

Porque se em outras paragens me escondesse,
Nas terras desconhecidas do descaso,
Seria o amor, do peito, oriundo.



Frederico Salvo

5.12.10

Paródia


Haveria de ser mais que um dia.
Bem mais que a vibração de um momento.
Haveria de ser menos que o vento,
Mas além dessa imensa calmaria.

Pudesse ser bem mais que simples palha
Que o fogo da razão logo consome
E mesmo que aquém de um codinome,
Pudesse nominar algo que valha.

Mas é apenas troca de favores,
Paródia fria e pobre dos valores
De tudo o que de fato deveria.

Apenas um exemplo camuflado,
Teatro muito bem representado
Na peça que se chama hipocrisia.


Frederico Salvo

2.12.10

O encontro entre o rio e o mar


A madrugada convida.
Tudo me lembra você.
Essa espera contida,
Um turbilhão de prazer.
Essa certeza que o rio
Vai para o mar.
Essa clareza que a noite
Não pode apagar.

Você cruzou minha vida
Sem que eu pudesse prever.
Você abriu a ferida
Que a gente sente e não vê.
Você me diz compassiva:
_ Pode chegar.
Esse desejo é um rio,
Esse convite é um mar.

Eu abri meu coração,
Porque razão deveria esconder?
Você sente em minha mão,
Em meu olhar, enfim, você lê

Que o tempo não sabe esperar,
Que a espera só sabe roer
O peito de quem quer amar.

Ah! Eu deixo esse barco fluir...
A vida espera pra ver
O encontro entre o rio e o mar.



Frederico Salvo