31.12.11

FELIZ 2012



No dia 29/12 esse blog completou três anos de existência. Por vezes já quis encerrar as atividades por aqui, mas decidi não fazê-lo. Esse espaço é um canal de manifestações espontâneas e tem sido uma experiência significativa e enriquecedora para mim. Espero, também, que para cada uma das pessoas que por aqui aporte, ele possa contribuir de alguma forma. Agradeço a presença de todos e aproveito para deixar uma mensagem de fim de ano, um poema de Victor Hugo em que aflora tudo o que verdadeiramente desejo a cada um de vocês.
Grande abraço e Feliz 2012.



(Victor Hugo)


(áudio)


Desejo
Victor Hugo

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.

E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.

E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar.

24.12.11

Perplexidade


Deixo por aqui, para todos que porventura visitarem hoje a minha página e também a todos os que vez ou outra passam por aqui, o desejo de um Feliz Natal repleto de Paz, Amor e muita Saúde.
Grande abraço!

****************




Que força vive no seio da semente
Que a hora certa de fazer existir,
Sabe exatamente?

Seria a mesma força estranha
Que ao sabê-la mãe, misteriosamente,
Fez-se leite em sua entranha?

Será que seria um acaso,
Uma sucessão de coincidências
Ou seria, nesses casos,
Inexplicável transcendência?

Tudo isso pode ser nada?
E se fosse; D’onde viria isso tudo?
Você: pensativa, calada.
Eu: perplexo, mudo.


Frederico Salvo

18.12.11

Cepticismo


Por muito ver a corrupção sobrepujar a ética,
O egoísmo solapar a dádiva;
Foi que criei essa maneira céptica
De encarar essa burrice prática.


Frederico Salvo.

16.12.11

Desvario


Como entender a tua brejeirice
Enclausurada num furor de Beija
E a inocência leve de Alice
Subjugada a um qualquer que seja?

Como entender teus múltiplos deslizes,
A tua lógica dissimulada
E o passado, que habita em cicatrizes,
Aberto em ardente e tortuosa chaga?

Não há caminho, nunca houve nada;
Só um errante e cego desvario
Que se perdeu na torpe madrugada.

Um sonho louco, breve, fugidio.
Uma verdade crua, mascarada...

Realidade rude e vil.... no cio.


Frederico Salvo

10.12.11

Às cegas


Tento esquecê-la. É fato.
Na manhã sombria,
Chuvosa e fria,
Fica na boca o gosto do hiato,
A lacuna que deixaste.

Vão.

Ainda...
Essa mesma solidão
De quando vim ao mundo,
Arrancado, à força, da inocência.
Ainda isso a ribombar.

Eu busquei todas as coisas
Tentando disfarçar.

Veio você.Luz.
E depois o pranto.
Rio silencioso na boca da noite.
Amei-te tanto.
Com a força desmedida de um condenado.

Que marcas a vida tem deixado em mim?
Que devaneios mais devo oferecer-me?

Santa caminhada às cegas.
Vida que amarra.
Passos estimulados
Pelas esporas do ter que seguir em frente.

Vão.



Frederico Salvo

8.12.11

Solidão e anseio


Misturam-se em mim, solidão e anseio;
Num vendaval onde meu peito se agita.
A primeira, perversa; implacável grita.
O segundo balbucia: _ Vim a passeio!

A primeira agride. Rancorosa, fere
E transforma tudo numa noite escura.
Já o segundo, em notável candura,
Transformar-se em claro dia, prefere.

Atados, os dois, numa ferrenha luta,
Criam instabilidade em meu mundo;
Tornam turbulenta essa minha sina.

E assim, dois extremos meu peito desfruta:
Ela tentando me levar para o fundo,
Ele querendo me puxar para cima.


Frederico Salvo

4.12.11

Mais alguns haikais.....

Momento único.
Riso ou lágrima?
Gol!

*****

Lua minguante
No céu do corpo.
Cravo-te a unha.

*****

Voa feito passarinho
Minha cabeça que ato
Para que volte ao ninho.

*****

No vaso do pé de ameixa
Brotou uma flor divina,
Menina com olhos de gueixa.

*****

Arrebata-me o vento
Sobre o corpo esguio.
Alegre pedalo.

*****

Braçada de lírios.
Braçada de sonhos.
Delírios.

*****

Leve como pluma.
Nua e breve flutua,
Sobre a água, a espuma.

*****

Minha barca corta o rio.
Enquanto navega, eu canto
As gratas imagens que crio.

*****

Frederico Salvo

2.12.11

Haikai***


Miúda assim; Perfeita síntese.
Nem um milhão de versos meus seriam
Exatamente como fantasiam
Os sonho meus. Nem chegam próximas

Do que em ti de mim foi condensado,
As rimas desses versos, as metáforas,
Nem mesmo as mais translúcidas, diáfanas,
Conseguem traduzir o teu legado.

Pois tudo que se quer pode ser pleno,
E o que é imenso cabe no pequeno
Sussurro que da tua boca sai.

Por ser o universo resumido,
Na tua existência estar contido...
És minha poesia em haikai.


Frederico Salvo

***forma poética de origem japonesa, que valoriza a concisão e a objetividade. Os poemas têm três linhas, contendo na primeira e na última cinco caracteres japoneses (totalizando sempre cinco sílabas), e sete caracteres na segunda linha (sete sílabas).

Deixo aqui também um pequeno haikai:

Espelho, espelho meu...
Há,(o céu disse ao mar),
Alguém mais belo que eu?

Frederico Salvo

28.11.11

Não há que se dizer mais nada (áudio)

Olá, amigos leitores!
Para encerrar o mês de novembro, trago novamente o poema "Não há que se dizer mais nada", publicado originalmente em março de 2011, só que nessa oportunidade acompanhado de áudio. Espero que agrade e que possa acrescentar de alguma forma. Obrigado e um grande abraço a todos.




O fogo que há em ti
É o mesmo que me queima.
Em mim pode agitar a alma
E atormentar os pensamentos
Em ti pode ser apenas
Uma branda chama apática.
Pode ser que em ti
Não consiga aquecer a melancolia
E nem iluminar-te os olhos,
E em mim seja calor eufórico
A brasa da minha língua,
Mas será sempre o mesmo fogo.
O mesmo que na natureza
Vai adubar a terra
Onde então a semente
Estabelecerá sua morada.

A terra que há em ti
É também a mesma que me firma.
Em mim pode ser ressequida
E devorar qualquer umidade.
Em ti pode ser fecunda
Casa de todo verde.
Pode ser que em ti
Seja estrada que encaminhe
E te encha de viço os lábios,
E em mim seja apenas deserto
A sede na minha boca,
Mas será sempre a mesma terra.
A mesma que na natureza
Vai abrigar a pedra
Onde a água cristalina
Brotará como encantada.

A pedra que há em ti
É a mesma em que me assento.
Em mim pode ser início
A base da fortaleza.
Em ti pode ser estorvo,
Lápide indesejada.
Pode ser que em ti
Seja peso sobre os ombros
Ou lhe feche as narinas,
E em mim seja solo seguro
Onde não se conhece a tristeza.
Mas será sempre a mesma pedra.
A mesma que na natureza
No âmago da sua dureza
É berço de toda água.

A água que há em ti
É a mesma que me sacia.
Em mim pode ser escassa
A fonte de todo medo.
Em ti pode ser que farte
Dádiva pura e sagrada.
Pode ser que em ti
Seja rio caudaloso
Ou mar de completa abundância,
E em mim seja ínfima gota
Inexpressiva em meu deserto.
Mas será sempre a mesma água.
A mesma que na natureza
Vai hidratar a semente
Da árvore tão esperada.

A árvore que há em mim
É a mesma que em ti aflora.
Em mim pode ser frondosa
Sombra ao meio-dia.
Em ti pode ser esquálida,
Frágil, mero caniço.
Pode ser que em ti
Seja baixa e retorcida
Ou cacto de pura ira
E em mim seja forte e frutífera
Esteio da minha rede.
Mas será sempre a mesma árvore.
A mesma que na natureza
É mais suscetível ao fogo
Quanto mais é ressecada.

E agora, se me permite,
Não há que se dizer mais nada.
Basta só entender que a vida,
Em nuances repartida,
Nunca foi fragmentada.



Frederico Salvo

25.11.11

Meu último poema


Acaso leias meu último poema,
Saiba que nele estará implícita
A totalidade dos teus olhos
E ainda, mais além,
Os olhos dos teus amores
E da tua alma.

Acaso fale da natureza,
Haverá nele o mais indizível verde
E o ápice homeostático
De todos os elementos que a compõe.

E a despeito de toda a beleza,
Esse verde será também
O sumo de toda mágoa,
De toda frustração indesejada
E de qualquer ira adormecida,
Temperadas pelo afã de vê-las superadas.

Acaso leias meu último poema
E ele te pegue desprotegido, despedaçado,
Saiba que nele, independente do que transmita,
Haverá um abraço oculto,
Um beijo elaborado
Para servir a teu espírito dolente.

Acaso fale de solidão,
Haverá nele, concomitantemente,
Um luminoso branco de paz,
Uma bandeira que cubra a todos os povos
E que desfaça de vez toda a tristeza.

Acaso fale de insegurança e medo,
E seja negro e escuro
Como a mais negra madrugada,
Haverá nele, sempre,
O brilho essencial
De uma pequena estrela perdida.

Acaso leias meu último poema
E ele não possua versos que te agradem,
Saiba que em mim houve
A mais intensa entrega
E a coragem desmedida
De quem salta no vazio.

E sendo assim,
Acaso não tenhas lido
Nenhum de meus poemas
E não venha a fazê-lo posteriormente,
Terei sido para ti, bem ou mal,
Nesses versos que leste agora,
A intenção sincera e aguerrida
De que haja sempre o melhor em ti...
...pois acabaste de ler,
talvez por obra do acaso,
o meu derradeiro e último poema.


Frederico Salvo

22.11.11

Via de regra

Primeiro...
Nasce o rebento.
Um sopro original.
A esperança...
Num segundo momento.

(Após o corte umbilical).

Primeiro...
Punge a infância,
Abrangente, colossal.
A esperança...
Em outra circunstância.

(Quando se cai no real).

Consoante...
Vem a entrega,
Num delírio passional,
De mãos dadas co’a esperança...
Que, (via de regra),
É no amor, atemporal.


Frederico Salvo

20.11.11

Desilusão (poema musicado)


Aqui os papéis se invertem. O querido amigo e poeta José Silveira leu meu poema e soprou essa melodia. Eu musiquei. Abraço a todos.

Crua...
Carne crua
Que me dói assim dilacerada
Pelo triturar, pelo desfio
Da desilusão...
Faca amolada.

Nua...
Alma nua
Na moenda posta em desmesura
Mesmo em bagaço, deixa um rio,
Uma corredeira
De doçura.

Rua...
Vasta rua.
Onde vai levar essa estrada?
Esse caminhar: um desvario.
Essa ilusão: um imenso nada.

Nada não.
Um imenso nada.
Vão.
Isso é desilusão.
Um imenso nada.
Vão.
Isso é desilusão.
Um imenso nada.
Vão.



Frederico Salvo

15.11.11

Confluência (Uma homenagem à amizade)



Olá, amigos leitores!!
Encontrei em meus arquivos de áudio mais uma das declamações feitas pelo meu amigo e radialista Odair Silveira, já falecido. Aqui ele declama essa homenagem à amizade, postada originalmente em julho de 2009. Espero que gostem. Grande abraço.





E que caminho outro haveria de ser meu
Além desse aqui em que um dia me encontraste?
Que outro destino haveria de ser seu
Senão o que a mim juntamente estiveste?

Seria ao acaso essa espontânea confluência
Que nossos riachos por hora experimentam
Tão somente fruto de vã coincidência,
Junção de quimeras qu’essas águas levavam?

Por que abraçaste meu liame de defeitos
E nunca julgaste meus gestos imperfeitos
Quais ventos num mar de constante tempestade?

Pergunto a mim mesmo qual a razão desse apreço.
Será mesmo meu Deus, que eu de fato mereço
Experimentar tão profunda e sincera amizade?


Frederico Salvo
*********************************************

13.11.11

Democracia


Não és mais do que ninguém,
Nem serás.
Visto que somos todos humanos.
Não vingarás.
Passarás, se extinguindo aos poucos
Com o desenrolar dos anos.
O que te difere do mais simples dos homens?
Talvez teu saber diferenciado,
Teu papel social escolhido.
Talvez, num lance de sorte perdido,
Teu nascer em berço privilegiado.
Nossas diferenças são desse mundo,
Nossos conflitos são passageiros
Nesse contexto pragmático.
E se diferes de alguém agora,
Serás um igual quando for tua hora;
Mútuo findar democrático.


Frederico Salvo.

6.11.11

Improviso


Esse mundo descompassado
há tanto perdeu a poesia.
Eu, fruto amadurecido à força
enrolado num jornal do passado,
teimo em me vestir
com as roupas desse sonho inacessível,
contemplando a réstia
na escuridão do quarto.
Essa criança,
que um dia viu-se dentro delas
antes mesmo do tempo puí-las
e as tornarem rotas,
tem nos ouvidos
o compasso simples dos primeiros passos,
mas agora improvisa
num outro andamento jazzístico composto.
Não que seja de todo ruim,
pois a pedra bruta acaba
por acentuar o brilho quando lapidada,
mas, ainda assim,
guarda em si a nostalgia de ser desejada
apenas como pedra bruta.


Frederico Salvo

30.10.11

A casa da boa esperança



(para ouvir o poema declamado)


Na casa da boa esperança
Um sonho nunca descansa.
Eterno, moto-contínuo,
Imerso em graça e fascínio,
Perene em chama mansa.

Na casa da boa esperança
Anseia-se sempre bonança.
Caminha-se crédulo, ingênuo,
Intrépido desde o início
Vestindo perseverança.

Na casa da boa esperança,
Mesmo que haja mudança,
Jamais haverá desperdício
De fé, porque fé é o ofício
De quem do amor faz criança.

...Na casa da boa esperança.


Frederico Salvo

23.10.11

Exercício


Sobretudo, deixe que esvaia
Não sem antes sentí-la inteira.
Emoção deve ser passageira.
Se entrou, cuide para que saia.

Remoê-la pela vida afora,
Ruminá-la insistentemente,
Pode ser que lhe faça doente.
Cuide então para que vá embora.

Um sorriso depois da derrota,
Nova rota após a desfeita,
Mesmo sendo que muito lhe doa

É remédio para o que embota,
É antídoto contra quem rejeita.

Ganha o corpo quando a alma voa.


Frederico Salvo

17.10.11

Nascitura


A ti chamaram flor um dia. Outras bocas.
Creio que mais importantes que a minha.
Talvez...Penso que sim.
Eu cognominei-a criança. Nascitura.
Porque para mim nascerias em tempo único.
Meu tempo. Cravado no reluzir de um sonho.
E esse nascer desmiolado, sem rota,
Seria a gota perene a saciar a sede
Dessa boca sedenta de vida.
Nascitura.
Semente mínima nesse solo árido.
Agüei.
Agüei.
Agüei.
Foste cáctus.
Uma criança de espinhos.


Frederico Salvo

14.10.11

Um quase nada


Quisera eu não tê-la a toda hora
Qual a uma adaga, lâmina afiada,
A traspassar-me a crua e atormentada
Alma que em tortuoso cais ancora.

Cais da paixão, inóspita parada.
Casa onde a velha insegurança mora;
Onde atraco hoje, muito embora,
Já conhecesse há tempo essa morada.

O que me traz aqui erroneamente,
Senão a ânsia louca, obcecada,
Por esse amor que fere impunemente?

Deixo que a pena leve a uma estrada
Que me conduza à força onipresente
D’um sentimento vão... um quase nada.



Frederico Salvo

7.10.11

Como fosse neve


Guarda a mim como aquele que não teve
A coragem de tê-la abertamente
Como a última e profícua semente,
Por não ter a consciência leve.

Guarda a mim como o sol que queima quente
Muito além desse momento breve,
Onde tudo é como fosse neve
Que congela o sonho a nossa frente.

Nunca fui promessa de futuro.
No escuro, nunca fui um passo;
Nem fui laço do passarinheiro.

E agora que ergueste um muro
E por juro me negaste o abraço,
Sou pedaço do que foi inteiro.


Frederico Salvo

9.9.11

Grito calado

Não vou arrancar de ti nenhum fruto que me valha
Se tuas raízes fixaram-se no abandono, no descaso.
Não vou colher das tuas mãos nenhum gesto de carinho
Se na tua desventura amputaram-te a alma.
Tenho vertido um choro quente,
Um caudaloso rio nascido da tua rudeza,
Filho de um fio d’água
Saído de uma pedra bruta e insensível.
O curioso é que nos teus olhos,
No brilho que eles transmitem,
Há um quê de amor...
Mas não um amor aberto e oferecido,
E sim o amor amordaçado,
Um grito calado de socorro.
Amo-te assim mesmo no meu desespero.
Não me desvencilho das tuas amarras,
Pois elas garroteiam meu sangue
Que pulsa no compasso de um coração que é teu.
E assim eu caminho.
Pé pós pé.
Dia pós dia.
Numa desenfreada loucura,
Que a despeito do meu sofrimento,
Insiste em ser a razão nesta estrada vã.

21.8.11

À noite...


Só à noite somos
Claramente do universo.
De dia não....
De dia somos como as formigas,
Como os cupins ou as abelhas.
Menos harmonizados...claro.
À noite ao lançar os olhos
Sobre a via do leite,
Ao nos afogarmos pela indagação permanente
Do que será verdadeiramente isso;
Do que se esconde por trás
Das estrelas...
Nessa hora... sentimo-nos menores.
Queremos à noite
Saber o verdadeiro porquê das bombas,
Dos holocaustos,
Dos infanticídios.
Só à noite nossos corações pulsam
Em compasso com a nossa consciência.
De dia...
É o peito mecânico,
Imperceptível.
De dia a consciência está à sombra
Do sol da sobrevivência,
Da manutenção da dignidade.
À noite não...
À noite temos um encontro
Com o velho travesseiro
Que tudo sabe.
É à noite que vêm à baila
A decisão dos suicidas.
É à noite que irrompem
Os rios das lágrimas mais sentidas
E secretas.
É à noite que temos
A clara percepção da nossa pequenez
Diante da vida.
À noite sabemos exatamente
Que de nada valem os excessos,
As diferenças materiais.
À noite sentimos
O quanto somos cúmplices
Da mesmice humana,
E é à noite mesmo
Que afinamos os nossos discursos
Para justificarmos a nós mesmos.
À noite abraçamos a quem amamos
Com os braços dos desprotegidos.
À noite a criança que fomos
Grita por aconchego.
E é também à noite que,
Por tudo isso, nos é concedido
O bálsamo mais que bendito do adormecer.
Boa noite!


Frederico Salvo
*************************
Direitos efetivos sobre a obra.

13.8.11

Porque você existe


Porque você existe,
Sou mais alegre que triste.
Ando de encontro ao vento
Com passos de bandeirante,
Levando no pensamento
A pedra mais radiante:
Esse amor que em mim resiste
Triunfante.
Porque você existe.

Porque você existe,
Trago um sonho sempre em riste;
Um sol ardendo no peito
Confortando-me do frio.
Um querer consoante, perfeito;
Esse constante arrepio.
Esperança sã que insiste,
Equilibrando-se no fio;
Porque você existe.


Frederico Salvo.

26.7.11

Esperança e desprezo (composição musical)




Composição para violão: Frederico Salvo

23.7.11

Soneto sobre as sete amigas


_ Palmas pra mim que sou o máximo!
Gritou retumbante a Vaidade.
_Cala-te, convencida; Mísera!
Bradou a Ira (rubro-escarlate).

_ Melhor merendarmos o próximo.
_ Sandwich? – Perguntou a Gula –
_Não! Falo no sentido físico.
Disse a Luxúria. (já meio fula).

E a Preguiça, de modo trôpego,
Diz ao pé-de-ouvido da Avareza:
_Melhor descansarmos. Palhaçada!

E essa bem altiva e rápida
Diz: _Mas descanso não faz riqueza!
E a Soberba? Orgulhosa, calada.


Frederico Salvo

21.7.11

Por querer...


E foi por querer meter a mão no pote
Onde rebusquei a tal felicidade;
Por não ter poema e então buscar um mote
Que levasse além d’uma cruel saudade.

Por acreditar que amor não é fricote,
Confundir desvelo com afinidade;
Por ficar de pé nesse pequeno bote
Sobre as vagas vis em plena tempestade,

Que mais uma vez encontro-me sozinho,
O peito em frangalho, a alma em desalinho...
(Foi o que restou desse pesado dote).

E ao procurar da dor a panacéia
Transformei-te assim em musa... Dulcinéia,
E fui pra ti apenas mero Dom Quixote.


Frederico Salvo

16.7.11

Espera


Espera. Espera e enquanto isto escuta
O que diz teu coração sobressaltado
À sombra de um sorriso malogrado
Pela ânsia da ventura que o refuta.

Espera. Espera e enquanto isto enxuga
Co’essas tuas mãos este constante pranto
Que inutilmente tens vertido tanto
Por um certo alguém que vive sempre em fuga.

Espera. Espera porque, sobretudo,
Esperar tem sido o teu melhor alento;
Um sonho bom à luz da primavera.

E o passar do tempo que suplanta a tudo,
Há de trazer, qualquer dia, num rebento,
O sagrado fruto desta tua espera.


Frederico Salvo

12.7.11

Sonho


Desço do bonde agora que já é tarde.
Não há na rua ninguém que me espreite.
Fui até longe e não encontrei deleite
Cá no meu peito uma ferida arde.

Na minha cama, dentro do meu quarto,
Meu pensamento ancora em teu recife.
Caio no sono e antes que me espatife,
Num sonho esquálido e leve parto.

Enquanto a barcaça na marola bóia
Num mar sereno que pintei um dia,
Tu me acenas da beira da praia.

Perfeita musa num quadro de Goya,
De Amadeus exata melodia,
Desconcertante e bela deusa Maia.



Frederico Salvo

10.7.11

Decreto em soneto


Fica terminantemente proibido
Que os sonhos bons se percam na estrada.
Que os frutos do amor sejam colhidos
E à parte sejam postos como nada.

Fica terminantemente proibido
Que a paz seja somente um discurso.
Que os pobres sejam sempre excluídos
E o rio do egoísmo siga o curso.

Que Deus esteja abaixo do dinheiro,
Que a guerra seja fato costumeiro
E o ímpeto do bem seja contido.

Que falte o alimento sobre a mesa,
Que seja agredida a natureza.

Fica ter-mi-nan-te-men-te proibido.



Frederico Salvo


Under Creative Commons License: Attribution Non-Commercial No Derivatives

8.7.11

Nua Nau


Lua
Linda,
Nua
Bóia.

Alva
Jóia,
Calma
Singra

Neste
Céu...
Bela;

Foste
Nau
Rara.


Frederico Salvo

6.7.11

Minha senhora


Queria dar nos ponteiros um jeito
De eternizarem o tempo nessa hora
Em que desfilas nua, minha senhora,
E vens fazer morada no meu leito.

Deixar a vida transcorrer lá fora
(vida maior me vai dentro do peito),
Se tudo mais eu muito tenho feito
Por essa chama que em mim aflora.

Nenhum minuto mais é registrado.
E tudo a nossa volta está parado,
A eternidade toda é no agora.

Dentro d’um quadro esses nossos instantes
De desprendidos e loucos amantes
Vão congelados pela vida afora.



Frederico Salvo

2.7.11

Flash-back


E se eu fizesse tudo ao contrário.
Começasse da morte
Até chegar ao berçário.

E dali então buscasse outro cenário.
Mergulhasse no útero
Até que chegasse ao ovário.

Mais além... vida e morte siamesas

E o diverso, unitário.



Frederico Salvo

26.6.11

Louco


Haja visto que tudo o que norteia
E baliza a conduta dessa gente
Vai de encontro a essa chama que incendeia
O egoísmo que caminha sempre à frente.

Não que fosse assim desde o começo.
Pouco a pouco é que se vai forjando em brasa.
Nesse mundo em que tudo tem seu preço,
A inocência é enterrada em cova rasa.

Há quem, louco, nada contra a correnteza.
E essa força monstruosa desafia,
Compensando força bruta com leveza.

Desce o elmo e incorpora fantasia,
Hostilidade paga com delicadeza
E transforma desamor em poesia.


Frederico Salvo

22.6.11

Abrigo


Abrigo meu de todas as tormentas.
Mais uma vez retorno são e salvo.
Eu perguntei ao vento: _ Por que ventas
Na direção contrária do meu alvo?

Abrigo meu, resposta tive exata.
Numa lufada forte em assobio
O vento sugeriu: _ Não te maltratas,
Ajusta as velas na direção do estio.

Assim o fiz então resignado.
E agradeci ao vento pela sorte
De entender tão nobre melodia.

Orei por fim ao ter reencontrado,
Depois de ter lutado à clava forte,
O meu abrigo (água que sacia).


Frederico Salvo

19.6.11

Bambu


Doravante serei eu flexível
Qual bambu que dança ao vento bravo,
Pois já sei que nunca é possível
Ter a fruta da vida sem o travo.

Tatarei de, defronte ao intransponível,
Dar-me asas, fugir de ser escravo
Da atitude sem graça e previsível
De a tudo atribuir agravo.

E voar até que é possível
Se co’as unhas da esperança cavo,
Se da fé eu faço combustível.

Se o vento não aceita conchavo,
Não vergar é inadmissível.

Só dou ponto depois que alinhavo.



Frederico Salvo

11.6.11

Duas vidas

Não há que existir esse ranço de guerra
Entre duas vidas que caminham juntas;
Uma bandeira mútua no alto da serra
Deve ser resposta a nossas perguntas.

Não há que existir competitividade
Entre forças que têm o mesmo sentido
E que vão a busca da felicidade;
Não tornemos nosso sonho dividido.

Não deveremos fuçar nossos defeitos
Por querer ser mais que o outro apenas,
Nem tripudiar sobre os erros alheios.

Deveremos exaltar os nossos feitos
Fazer das nossas mazelas, pequenas,
Já que são meus, amor, os teus anseios.


Frederico Salvo.

Desde que foste é assim...


Silêncio.
A casa está vazia novamente.
Há um resto de riso no ar,
Uma gargalhada ecoando.
Teus olhos ainda estão aqui...
Azuis como o céu.
Céu do meu contentamento.
Desde que foste é assim.
Um poço fundo de coisa alguma,
Essa impressão de que já fiz minha parte,
De que o caminho adiante
Não é para os meus passos.
Vou de um cômodo ao outro,
Num incômodo permanente.
A lembrar-te ...
In-fi-ni-ta-men-te.

Frederico Salvo

9.6.11

Um gesto apenas





"Faça o que é possível para um máximo de pessoas
e deixe Deus encarregar-se do resto".


Um gesto apenas. Um gesto que valha
Para dar vida àquele que vagueia.
Seja um sorriso, doce luz que espalha
N'alma dorida, fogo que incendeia

Ou seja o toque (quem sabe um abraço?)
Para abrandar a dor que serpenteia
E alivie o peso do cansaço
Que dilacera, queima e desnorteia.

Um gesto apenas. Um gesto que valha
Para tirar por hora quem caminha
Sobre o danado fio da navalha.

Talvez pequeno, tênue feito linha.
Talvez sutil, leve como palha...
Cais para a alma que vaga sozinha.


Frederico Salvo

4.6.11

Desconsolo


Diabo! Que palavras meto nesse verso agora
Se na vestimenta pura já não caibo
E a esperança vã deitei todinha fora?

Flâmula que esvoaça sem nenhum consolo
Ao sabor do vento, comezinha, tácita,
Que traz estampado imensurável dolo.

Só a solidão repousa à margem plácida.


Frederico Salvo

29.5.11

"Eulefante"


Que diferença há tão gritante
Entre mim e o imenso elefante
A não ser as enormes orelhas,
E o paquiderme não ter sobrancelhas?
Talvez por não ter pés redondos
Ou por não temer camundongos,
A ele, enfim, não me assemelhe.
Ou a silhueta não se espelhe.
Mas sinto que há comumente
Entre mim e esse ser diferente,
Algo único de rara beleza:
A essência da mãe natureza.


Frederico Salvo

22.5.11

O que é humano em mim


Olha pra mim.
Talvez eu tenha perdido a graça
Agora que já me conheces por inteiro.
Agora, por não haver mais novidades,
Sobressaiam mais os meus defeitos.
Mas amar seria mesmo o ato de abraçar-me
Assim como estou agora.
Porque estou humano
E não consigo me desvencilhar
Do que é humano em mim.
Olha pra mim.
Vê nos meus olhos o quanto a vida urge,
O quanto esse brilho quer dizer entrega.
Sente quanta energia minha está em ti.
Olha pra mim.
Devo deixar que o tempo passe
E que as lembranças embrulhem tudo um dia...
Quando já não for mais tempo dos nossos olhos.


Frederico Salvo

20.5.11

Entre isso e aquilo



Entre a fome e o fastio...
Mora a saciedade;
Entre a mentira e a verdade
A omissão tece seu fio;
Vai rolando a fantasia
Feito as águas de um rio;
Às margens: o sonho e a realidade.
Vou firmando a minha lida
E entre o nascimento e a morte,
Não sei se por revés ou sorte,
Vou vivendo a minha vida.


Frederico Salvo

14.5.11

Óbvio



Precisarei de tempo, muito tempo...
Antes que a noite chegue por completo
E esquarteje os últimos raios do sol,
Antes que tudo pareça evaporar
E não haja mais nem uma pequena lágrima.
Precisarei de tempo para desfazer o bordado
E começar novamente...
Com outras linhas que não as minhas.
Precisarei retornar pelos passos que dei
Até encontrar a vereda equivocada,
Até entender o que foi que me distraiu no caminho.
Precisarei de tempo para rir da piada fraca
E chorar pelo que não me toca.
Precisarei esquecer os cortes e amolar a faca,
Revolver a terra do leito do rio, já sedimentada.
Precisarei fingir que não dói a desfeita
E escancarar o sorriso de fachada,
Dissolver política no meu mundo.
Terei que pigmentar com cores indesejadas
Novos desejos aceitáveis...
Vestirei a roupa da moda...
Mesmo sabendo que não me cai bem.
Talvez assim haja tempo para ser içado
Deste mar que em mim não cabe.
Depois então...
Se não for também esse o caminho...
Terei entendido, de uma vez por todas,
O óbvio que repousa em mim agora.


Frederico Salvo

9.5.11

Como filme ou canção


Fosse como o mel: doce.
Fosse como o que eu sempre trouxe como se fosse meu
E que como foice me feriu.
Fosse mais, fosse céu.
Mais além do que um mero orgulho seu.
(Foice, doce, além, orgulho, céu).
Fosse mais que mais uma ilusão,
Mais que quimera,
Fosse chão para que eu pisasse firme.
Fosse filme,
Fosse uma canção.


Frederico Salvo

5.5.11

Aproveita que é primavera


Abra-te meu peito, sem medo.
Afinal não há outro jeito.
Exponha-te assim,
Dessa forma sincera,
Dando-te ao mundo.
Vamos meu peito coopera,
Pois não tens a certeza do tempo seguinte,
Nem tampouco podes ruminar,
A não ser brandamente,
Um passado onde não te cabia a efemeridade.
Então, abra-te em flor,
Aproveita que é primavera.
Encha-te de ar, de luz, de som, de quimera.


Frederico Salvo

24.4.11

Auto-retrato (poema musicado)




Extraído do soneto de mesmo nome de Júlio Saraiva
Música: Frederico Salvo


Olê, olê, olá, olê, olê...
Olê, olá...
Olê, olê, olá, olê, olê...

só por acumular erros antigos
já nem dou conta se a velhice é fato
ao longe avisto amadas e amigos
todos sorrindo no mesmo retrato

não temo a morte nem temo castigos
vou procurando manter-me sensato
planto maçãs onde nasciam figos
se ressuscito amanhã me mato

torto é meu andar como este soneto
pouco se me dá se é de pé-quebrado
a linha reta transformei em arco

não quero mais regras nem branco no preto
sou absoluto não troco de lado
navego só por conta do meu barco.

Olê, olê, olá, olê, olê...
Olê, olá...
Olê, olê, olá, olê, olê...

só por acumular erros antigos
já nem dou conta se a velhice é fato
ao longe avisto amadas e amigos
todos sorrindo no mesmo retrato

não temo a morte nem temo castigos
vou procurando manter-me sensato
planto maçãs onde nasciam figos
se ressuscito amanhã me mato

torto é meu andar como este soneto
pouco se me dá se é de pé-quebrado
a linha reta transformei em arco

não quero mais regras nem branco no preto
sou absoluto não troco de lado
navego só por conta do meu barco.

Olê, olê, olá, olê, olê...
Olê, olá...
Olê, olê, olá, olê, olê...


Soneto de Júlio Saraiva
Música: Frederico Salvo

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19.4.11

Psicografia


As lâmpadas se acenderam agora
E iluminaram as barracas no fundo da rua.
Ali onde minha infância foi tênue,
Meus sonhos foram insossos
Por haver em mim tanta brevidade.
Daqui posso ver tudo novamente;
Como um filme, quadro a quadro,
Uma torrente que vislumbra todo sentido.
Fui o que poucos foram,
Desatei o nó que havia em meu peito,
Resgatei o fardo de muitos
E resplandeci leve como a espuma
Que se move sobre as águas.


Frederico Salvo

16.4.11

Ventre


Deixe-me beijar teu ventre,
Pois não haverá momento
Como este agora
E a vida...
não passa nem dentro,
nem fora,
mas passa entre.



Frederico Salvo

12.4.11

A cor da paciência


O tempo voa e eu insisto em ir valsando,
Pois não me leva a pressa à terra outra
Além da mesma terra que sonhando
Eu sempre quis aquém da ânsia louca.

Eu quero o passo certo, a vela solta
Ao vento nobre que não seja furibundo,
Eu quero exato ímpeto e não revolta
Alimentando a chama do meu mundo.

Quero dançar um xote ritmado,
Ir esquecendo o modo apressado
Que imprimiram a nossa existência.

E quando um dia houver encontrado
Seja o que for que haja do outro lado,
Peço que tenha a cor da paciência.


Frederico Salvo

8.4.11

Alma


O que é exatamente o que chamam de alma?
Um nada que sustenta o todo do mundo?
Luz que bruxuleia semovente, calma,
Naquilo que a vida tem de mais profundo?

Seria tão somente fogo momentâneo
A alimentar feroz o tempo passageiro?
Ou parte de verdade santa, verossímil,
Daquilo que seria verdade por inteiro?

O que sustenta o corpo? O que dá rumo aos passos?
Que chama unifica todos os compassos?
O que te faz alegre ou te torna triste?

Naquele que indaga vivo, consciente,
Existe a resposta rápida, pungente:
A alma é quem pergunta se a alma existe.


Frederico Salvo

5.4.11

O timoneiro


Decerto serei eu o timoneiro
A desbravar as águas do oceano
Que hora eu encontro traiçoeiro
E noutra em calmaria vou singrando.

Não há como fugir dessa peleja
E nem abdicar a esse comando
E mesmo quando em dor, bendita seja,
A ação de ir em frente navegando.

Porque em toda dor a alegria
Repousa sutilmente alva, clara;
E em toda realidade há fantasia.

A vida é mesmo pedra muito rara
E a noite esconde a luz de todo dia...
A luz da vida... sempre muito cara.


Frederico Salvo

1.4.11

Na luz dos olhos teus


Eu vi a vida na luz dos olhos teus.
O chão...
A árvore...
O porto da lágrima incontida.
O barco...
O aceno. Ele me pareceu estático.
Definitivo.
O globo onde tudo parasse
A fazer sentido.
Seus olhos eram como mãos a me tocarem,
Braços a abraçarem,
Boca a me beijar a boca.
Neles havia a mulher e a menina,
A velha e a moça,
O ocaso e o meio-dia.
Eu continuaria a olha-los pela vida toda
Sem sentir sede nem fome,
Frio ou sono.
Fecho meus olhos e continuo a vê-los
A iluminarem o avesso
De tudo aquilo que não possuo.


Frederico Salvo

26.3.11

A maré (poema musicado)

bb




Extraído do poema de mesmo nome, de minha autoria, publicado aqui em setembro de 2010.


És minha lua.
És Sim.
E em mim toda essa maré,
Como flutua, assim,
Em tua direção.
Todas as vagas, enfim,
Toda essa luz do leito meu
É toda tua.
És minha lua.

Um imã lá no céu
Que anuncia
Que muito além
Do meu dossel de fantasia
Existe uma atração
E a flor da água
Quer ir ao rumo teu
Por essa via.

Lua...

Lua...


poema e música: Frederico Salvo


Este trabalho está protegido pela Lei dos Direitos Autorais N.o 9.610/98. O uso não facultativo - total ou parcial - do conteúdo exibido será tido como crime de plágio.