29.5.11

"Eulefante"


Que diferença há tão gritante
Entre mim e o imenso elefante
A não ser as enormes orelhas,
E o paquiderme não ter sobrancelhas?
Talvez por não ter pés redondos
Ou por não temer camundongos,
A ele, enfim, não me assemelhe.
Ou a silhueta não se espelhe.
Mas sinto que há comumente
Entre mim e esse ser diferente,
Algo único de rara beleza:
A essência da mãe natureza.


Frederico Salvo

22.5.11

O que é humano em mim


Olha pra mim.
Talvez eu tenha perdido a graça
Agora que já me conheces por inteiro.
Agora, por não haver mais novidades,
Sobressaiam mais os meus defeitos.
Mas amar seria mesmo o ato de abraçar-me
Assim como estou agora.
Porque estou humano
E não consigo me desvencilhar
Do que é humano em mim.
Olha pra mim.
Vê nos meus olhos o quanto a vida urge,
O quanto esse brilho quer dizer entrega.
Sente quanta energia minha está em ti.
Olha pra mim.
Devo deixar que o tempo passe
E que as lembranças embrulhem tudo um dia...
Quando já não for mais tempo dos nossos olhos.


Frederico Salvo

20.5.11

Entre isso e aquilo



Entre a fome e o fastio...
Mora a saciedade;
Entre a mentira e a verdade
A omissão tece seu fio;
Vai rolando a fantasia
Feito as águas de um rio;
Às margens: o sonho e a realidade.
Vou firmando a minha lida
E entre o nascimento e a morte,
Não sei se por revés ou sorte,
Vou vivendo a minha vida.


Frederico Salvo

14.5.11

Óbvio



Precisarei de tempo, muito tempo...
Antes que a noite chegue por completo
E esquarteje os últimos raios do sol,
Antes que tudo pareça evaporar
E não haja mais nem uma pequena lágrima.
Precisarei de tempo para desfazer o bordado
E começar novamente...
Com outras linhas que não as minhas.
Precisarei retornar pelos passos que dei
Até encontrar a vereda equivocada,
Até entender o que foi que me distraiu no caminho.
Precisarei de tempo para rir da piada fraca
E chorar pelo que não me toca.
Precisarei esquecer os cortes e amolar a faca,
Revolver a terra do leito do rio, já sedimentada.
Precisarei fingir que não dói a desfeita
E escancarar o sorriso de fachada,
Dissolver política no meu mundo.
Terei que pigmentar com cores indesejadas
Novos desejos aceitáveis...
Vestirei a roupa da moda...
Mesmo sabendo que não me cai bem.
Talvez assim haja tempo para ser içado
Deste mar que em mim não cabe.
Depois então...
Se não for também esse o caminho...
Terei entendido, de uma vez por todas,
O óbvio que repousa em mim agora.


Frederico Salvo

9.5.11

Como filme ou canção


Fosse como o mel: doce.
Fosse como o que eu sempre trouxe como se fosse meu
E que como foice me feriu.
Fosse mais, fosse céu.
Mais além do que um mero orgulho seu.
(Foice, doce, além, orgulho, céu).
Fosse mais que mais uma ilusão,
Mais que quimera,
Fosse chão para que eu pisasse firme.
Fosse filme,
Fosse uma canção.


Frederico Salvo

5.5.11

Aproveita que é primavera


Abra-te meu peito, sem medo.
Afinal não há outro jeito.
Exponha-te assim,
Dessa forma sincera,
Dando-te ao mundo.
Vamos meu peito coopera,
Pois não tens a certeza do tempo seguinte,
Nem tampouco podes ruminar,
A não ser brandamente,
Um passado onde não te cabia a efemeridade.
Então, abra-te em flor,
Aproveita que é primavera.
Encha-te de ar, de luz, de som, de quimera.


Frederico Salvo