9.9.11

Grito calado

Não vou arrancar de ti nenhum fruto que me valha
Se tuas raízes fixaram-se no abandono, no descaso.
Não vou colher das tuas mãos nenhum gesto de carinho
Se na tua desventura amputaram-te a alma.
Tenho vertido um choro quente,
Um caudaloso rio nascido da tua rudeza,
Filho de um fio d’água
Saído de uma pedra bruta e insensível.
O curioso é que nos teus olhos,
No brilho que eles transmitem,
Há um quê de amor...
Mas não um amor aberto e oferecido,
E sim o amor amordaçado,
Um grito calado de socorro.
Amo-te assim mesmo no meu desespero.
Não me desvencilho das tuas amarras,
Pois elas garroteiam meu sangue
Que pulsa no compasso de um coração que é teu.
E assim eu caminho.
Pé pós pé.
Dia pós dia.
Numa desenfreada loucura,
Que a despeito do meu sofrimento,
Insiste em ser a razão nesta estrada vã.