30.10.11

A casa da boa esperança



(para ouvir o poema declamado)


Na casa da boa esperança
Um sonho nunca descansa.
Eterno, moto-contínuo,
Imerso em graça e fascínio,
Perene em chama mansa.

Na casa da boa esperança
Anseia-se sempre bonança.
Caminha-se crédulo, ingênuo,
Intrépido desde o início
Vestindo perseverança.

Na casa da boa esperança,
Mesmo que haja mudança,
Jamais haverá desperdício
De fé, porque fé é o ofício
De quem do amor faz criança.

...Na casa da boa esperança.


Frederico Salvo

23.10.11

Exercício


Sobretudo, deixe que esvaia
Não sem antes sentí-la inteira.
Emoção deve ser passageira.
Se entrou, cuide para que saia.

Remoê-la pela vida afora,
Ruminá-la insistentemente,
Pode ser que lhe faça doente.
Cuide então para que vá embora.

Um sorriso depois da derrota,
Nova rota após a desfeita,
Mesmo sendo que muito lhe doa

É remédio para o que embota,
É antídoto contra quem rejeita.

Ganha o corpo quando a alma voa.


Frederico Salvo

17.10.11

Nascitura


A ti chamaram flor um dia. Outras bocas.
Creio que mais importantes que a minha.
Talvez...Penso que sim.
Eu cognominei-a criança. Nascitura.
Porque para mim nascerias em tempo único.
Meu tempo. Cravado no reluzir de um sonho.
E esse nascer desmiolado, sem rota,
Seria a gota perene a saciar a sede
Dessa boca sedenta de vida.
Nascitura.
Semente mínima nesse solo árido.
Agüei.
Agüei.
Agüei.
Foste cáctus.
Uma criança de espinhos.


Frederico Salvo

14.10.11

Um quase nada


Quisera eu não tê-la a toda hora
Qual a uma adaga, lâmina afiada,
A traspassar-me a crua e atormentada
Alma que em tortuoso cais ancora.

Cais da paixão, inóspita parada.
Casa onde a velha insegurança mora;
Onde atraco hoje, muito embora,
Já conhecesse há tempo essa morada.

O que me traz aqui erroneamente,
Senão a ânsia louca, obcecada,
Por esse amor que fere impunemente?

Deixo que a pena leve a uma estrada
Que me conduza à força onipresente
D’um sentimento vão... um quase nada.



Frederico Salvo

7.10.11

Como fosse neve


Guarda a mim como aquele que não teve
A coragem de tê-la abertamente
Como a última e profícua semente,
Por não ter a consciência leve.

Guarda a mim como o sol que queima quente
Muito além desse momento breve,
Onde tudo é como fosse neve
Que congela o sonho a nossa frente.

Nunca fui promessa de futuro.
No escuro, nunca fui um passo;
Nem fui laço do passarinheiro.

E agora que ergueste um muro
E por juro me negaste o abraço,
Sou pedaço do que foi inteiro.


Frederico Salvo