4.12.13

Meu Deus



Meu Deus não tem religião.
É uma janela aberta a todas as raças,
credos e nações.
Meu Deus não é só meu;
é do outro também.
Tem nomes diversos 
em bocas de mesmo hálito humano.
Ao mesmo tempo que sorri nos teus lábios,
chora em outras janelas da alma,
pois Deus é ao mesmo tempo
alma e janela de si mesmo.
Habita o seio da mata virgem,
porque é mata virgem.
Chove e absorve-se.
Venta e farfalha-se.
Sofre e conforta-se.
É o Deus do mínimo e do máximo,
do muito e do pouco,
do certo e do errado.
Ele está em todos os olhos
e lê a si mesmo nas linhas traçadas.
Agrada-se ou não.
Desfaz-se em bem ou mal
nas comas do teu livre-arbítrio.


Frederico Salvo

24.11.13

O jugo mais forte


Um dia sangraram à inocência.
Sem rumo partiu ferida de morte.
Perdida, sem prumo, ao sabor da sorte,
Vagou sempre em busca de referência.

De pouco valeu a razão da ciência;
Foi justa e precisa ao curar o corte,
Mas não debelou o jugo mais forte:
A noite que ofusca toda existência.

Vieram os dias de riso e festa;
Vieram as noites doces de amores,
No ciclo, onde a vida faz primavera.

Mas sempre depois de tudo o que resta
É esse canteiro vazio de flores,
É esse rugido, constante, de fera.


Frederico Salvo


26.10.13

Sobre um soneto


No princípio um soneto é só vontade
É um cesto de motivos infindáveis.
Por ser pulso criativo é liberdade,
Nascedouro de afãs intermináveis.

Se uns versos ganham a folha, distraídos,
Outros tantos no alforje se arvoram
A estarem, como eu, comprometidos
E com fome desmedida me devoram.

Diluído me desfaço em quartetos,
Liquefaço minha alma em tercetos,
Sou as velas d'uma nau que encontra o vento.

Quando vale este instante, desconheço,
Pois dar vida a um soneto não tem preço.
Sou um pai a ter nos braços um rebento.


Frederico Salvo


13.8.13

Abraço-me


Nu, nem sei como cheguei até aqui.
Vim de longe, muito longe...
Lembrei-me de, entre tantos,
Escolher um dia um caminho,
Uma pequena trilha de terra batida.
Entretanto, por esse mesmo caminho simples,
Que teve por sinalização apenas estrelas,
Cheguei frente a frente a mim mesmo.
Assim, trazendo comigo a poeira da estrada,
Abraço-me.


Frederico Salvo

29.7.13

Refrigério


" Comprazei-vos, ó Deus; em me livrar;
Depressa, Senhor:
Vinde em meu auxílio".
(Salmos 69:2)

Eis que, na sombra do meio dia,
Curta, minguada e aos meus pés
Surgiu um refúgio.
Eu que olhava o sol
E sentia suas propriedades ígneas,
As vaporizações sufocantes,
Os consequentes suores indesejáveis,
Não reparei-a a gritar meu nome
E a indagar:
Lembra-te de mim?
Eu sou filha do frescor da noite
Que provaste um dia.
Caminha em frente,
Reúne forças,
Porque ainda hoje
Baterei inteira em tua porta
E serei teu refrigério.


Frederico Salvo


14.7.13

Parto


Parto em dois
os descompassos dessa vida.
E antes que o não sonhar
intente o parto,
parto.


Frederico Salvo

10.7.13

Bruta flor

Exatamente hoje faz um ano,
Que por ser bruta flor parece dez.
Um período difícil e, salvo engano,
Da fieira da vida, um viés.

A princípio: estúpido, insano;
Pelo meio: o estouro das marés;
Pela fé? Um autêntico oceano
Sob a ótica e a certeza de Moisés.

Acredito (pois é só o que me resta)
Na vivência adquirida nesse ano,
Que por ser bruta flor parece dez.

Tens, amigo, meu convite para a festa
A essa flor, ontem bruta, hoje me irmano

Vencida... desfolhada... aos meus pés.


Frederico Salvo



5.7.13

Cabe em minha mão



Cabe em minha mão, presumo,
Toda a dimensão da vida.
Tudo de sonhar, a direção, o prumo,
Cabe em minha mão.

Cabe em minha mão, espero,
Tudo a se forjar na lida.
A dedicação, o farejar, o esmero,
Cabe em minha mão.

Cabe em minha mão, confio,
O seio teu minha querida.
O sussurrar, o apogeu, o cio,
Cabe em minha mão.

Cabe em minha mão.


Frederico Salvo

25.6.13

Enxurro



Língua que te quero água,
Mata-me a sede nesse deserto.
Dita-me os versos que saciam.
Dá-me metáforas exatas
Nas calhas das entrelinhas.
Seja como as nuvens espessas de chumbo
E derrame, monossilabicamente,
A síntese de todas as chuvas.
Que verta nesse enxurro todas as palavras.


Frederico Salvo

6.6.13

Peixe



A pena estanca, para, titubeia...
Nenhuma idéia clara se apresenta.
Meu pensamento voa, devaneia
E sobre à beira d''água se assenta.

Sou pescador agora e para a ceia
Quero pirão de peixe com pimenta.
Cevo o remanso, acendo a candeia
E lanço o anzol com isca suculenta.

Esse exercício é pura paciência,
Pois tenho fome e fé em evidência.
(E a segunda, trago como lema).

Sinto um tremor mexer o molinete,
Aguço o olhar, respiro em falsete...
E num rompante fisgo o poema.


Frederico Salvo

2.6.13

Talento

Ressalta.
Não faça prisioneiro
o teu talento.
A natureza
nunca inibe o vento
Mesmo que ofenda a tua vista
ou seja como técnica cubista:
Um sopro de assombro violento.

Rebata.
Hão de julgar-te
tolo, convencido,
Hão de deixar-te
À parte, esquecido,
No afã de minorarem tua verve,
Essa que em teu peito agora ferve,
Sempre contigo aonde tenhas ido.

Cala.
Respira.
Volta a caminhar
Mesmo que lento.

Anda...

(sussurrado ao pé do teu ouvido):

Não faça prisioneiro
O teu talento.


Frederico Salvo



30.5.13

PARTE


Acaso serei eu extemporâneo
Ao encontro de energia e consciência?
(Sutil apoteose da essência
Movida por um fluxo espontâneo).

Serei a milagrosa diligência,
Origem do amor tão magnânimo
ou simplesmente mínimo e anônimo
inseto sob os olhos da ciência?

Pois mesmo que o seja ainda bate
No peito meu o ritmo da vida,
Centelha de altíssimo quilate.

Se em tudo essa chama está contida,
Eu hei de ser, do todo, alguma parte.
Encaixe; Luz que brilha resumida.


Frederico Salvo




2.2.13

ROMPANTES - V -


O eco
é o espelho
do som.

*****
Homem:
Ponte entre
Céu e terra.

*****
A mágoa
É um tiro
Pela culatra.

*****
O beijo
Busca sorver
A completude.

*****

Quem vive de passado
Opta no presente
Por não ter futuro.

*****

Da pedra
Que me deste
Fiz tua lápide
Que enfeitei
Com as flores
Que te trouxe.

*****

Um verso
Tem por sumo
A alma.

******

O espirro
É um suspiro
Ao contrário.

******


Frederico Salvo

16.1.13

MEUS DESENHOS













Olá, Amigos!! 

Esses são meus "poemas desenhados" que tenho feito nas minhas horas vagas. Faço sob encomenda. Se alguém se interessar faça contato através de mensagem ou através do e-mail fredsalvo@gmail.com. 
Um grande abraço a todos vocês.
Frederico Salvo

4.1.13

Vida

A vida não respeita e passa
Como se tomasse posse
Dos passos que sempre passam.
Eu sei: mergulhar não posso,
pois rasa ela me perpassa.
Vida não é poço.
É poça.


Frederico Salvo