25.6.13

Enxurro



Língua que te quero água,
Mata-me a sede nesse deserto.
Dita-me os versos que saciam.
Dá-me metáforas exatas
Nas calhas das entrelinhas.
Seja como as nuvens espessas de chumbo
E derrame, monossilabicamente,
A síntese de todas as chuvas.
Que verta nesse enxurro todas as palavras.


Frederico Salvo

6.6.13

Peixe



A pena estanca, para, titubeia...
Nenhuma idéia clara se apresenta.
Meu pensamento voa, devaneia
E sobre à beira d''água se assenta.

Sou pescador agora e para a ceia
Quero pirão de peixe com pimenta.
Cevo o remanso, acendo a candeia
E lanço o anzol com isca suculenta.

Esse exercício é pura paciência,
Pois tenho fome e fé em evidência.
(E a segunda, trago como lema).

Sinto um tremor mexer o molinete,
Aguço o olhar, respiro em falsete...
E num rompante fisgo o poema.


Frederico Salvo

2.6.13

Talento

Ressalta.
Não faça prisioneiro
o teu talento.
A natureza
nunca inibe o vento
Mesmo que ofenda a tua vista
ou seja como técnica cubista:
Um sopro de assombro violento.

Rebata.
Hão de julgar-te
tolo, convencido,
Hão de deixar-te
À parte, esquecido,
No afã de minorarem tua verve,
Essa que em teu peito agora ferve,
Sempre contigo aonde tenhas ido.

Cala.
Respira.
Volta a caminhar
Mesmo que lento.

Anda...

(sussurrado ao pé do teu ouvido):

Não faça prisioneiro
O teu talento.


Frederico Salvo